terça-feira, dezembro 13, 2005

Lyrics

"Details Of The War"
(Clap your hands say yeah!)
Bloody sheets
Tenderly she moves me
An opera star
Dying hard for love
You say I'm hurt
I will take your word

Leather pants
Happiness
A hundred dollars
Buy success
Hanging with your fashionable whores
And I'm a wounded bird
I will take your word

You and tom (you and tom)
To the prom (to the prom)
Camel dick (camel dick)
Crucifix (crucifix)
Everyone's the same and on and on
Emerging from the football stands
Clinging to his broken hand
It's over I have seen it all before

Nakedness (nakedness)
A flying lesson
Tattered dress
Sunburned chest
You will pay for your excessive charm
With a boy who knows
Less than he thinks
Drinks up his expensive drinks
Be careful with the DETAILS OF THE WAR

‘Cosmos’, o melhor presente

10.12.2005 | O melhor presente que há para uma criança de algo entre 7 e 14 anos não se encontra em lojas de brinquedo ou de roupas. Está nas bancas: cinco DVDs, cada um a 29 reais, com o selo da revista “Super Interessante”. É a série “Cosmos”, lançada em 1980 na TV educativa norte-americana, PBS. Não há melhor introdução à ciência do que aqueles treze episódios narrados pelo astrônomo Carl Sagan.
Um dos grandes males atuais é a má fama que as disciplinas científicas têm nas escolas. São as matérias difíceis, as matérias chatas. Um dos resultados do mau ensino das ciências são as superstições e exacerbações religiosas que colam, as tentativas de fazer emplacar os designs inteligentes da vida. É incrível como algo tão mágico e fascinante quanto ciência é passado de forma tão burocrática nas salas de aula. Em “Cosmos”, Sagan faz tudo diferente.
Crianças que vêem “Cosmos” cedo chegam à ciência sem preconceitos, curiosas. Buscarão sempre a compreensão do mundo como ele é – sofisticado e rudimentar ao mesmo tempo, surpreendente. Há mais poesia numa molécula de DNA, uma solução aleatória e elegante, sua dupla hélice composta de quatro aminoácidos organizados de formas distintas, do que em qualquer livro sagrado. E Sagan sabe contar isso como deve, com poesia – ele é um deslumbrado com as coisas todas do mundo, um apresentador que não esconde sua paixão pelo que apresenta.
Porque “Cosmos” é talvez a melhor coisa jamais produzida para a televisão. Não é à toa que, no ano do lançamento, ganhou dois Emmys – o Oscar da TV norte-americana –, um pela melhor série informativa, outro pelo maior feito de uma única pessoa. Não é chato, basta ver o início de qualquer episódio que, repentinamente, o espectador está fisgado. Sagan vai fazendo perguntas e as respondendo conforme levanta novas dúvidas, um jogo de âncoras que tragam quem vê para dentro de seu universo.
Nenhuma criança ou adulto sai de “Cosmos” sem entender os mecanismos da Evolução Natural, a Relatividade Geral de Einstein ou o milagre do surgimento da vida. Um espectador que enfrente a série desarmado entende por que astrologia não faz qualquer sentido, por que é quase certo que existe vida fora da Terra e por que ninguém, de verdade, teve qualquer contato com os ETs. Aliás, em falando de milagre da vida, de “Cosmos” sai-se com a compreensão de que não há milagres, só a existência e suas regras, suas leis naturais numa eterna repetição de si mesmas à espera de que nós as revelemos.
Cosmos” é a respeito de ciência mas também do embate já secular entre o racional, o razoável e o tolerante, de um lado, e todos os seus opostos, uma larga gama que vai da astrologia à superstição e qualquer Deus do outro. “Cosmos” é a apresentação de uma causa – Sagan era um inimigo declarado de qualquer religião. O que há hoje, se ele conhecesse, bem pode ser descrito com o título de um de seus últimos livros: é o mundo assombrado pelos demônios.
Não há presente melhor para uma criança capaz de ler legendas: dá para entender alguma coisa desde bem jovem. Ao menos, é o presente ideal para os filhos daqueles que caminham ao lado de Carl Sagan – e estes sabem quem são.
Por Pedro Dória

sexta-feira, novembro 25, 2005

Pitchfork Review

The Flaming Lips
Yoshimi Battles The Pink Robots
I think it's safe to say that the Flaming Lips' Wayne Coyne is a genius, equal parts Thomas Edison and P.T. Barnum. Like Edison, Coyne is a relentless tinkerer, a visionary experimenteur with a sci-fi fetish and a soft spot for odd technologies. And like Barnum, Coyne is a consummate showman-- the hand puppets, the boombox orchestras, the oddball short films, the radio-controlled headphones. In 1984, Coyne was just another Oklahoma dreamer with an amateurish psych-rock garage band and a duffel bag stuffed with thrift-store effects pedals; 18 years later, Coyne finds himself in the position of following up one of the most universally regarded albums since Pet Sounds.
The album gets off to a rollicking start with the winning "Fight Test," a glossy rumination on the call to duty-- whether that's standing up to a playground bully or, as the Lips would have it, an army of rebellious androids bent on world domination. "If it's not now, then tell me when would be the time that you would stand up and be a man?" Coyne sings over a thick buzz of keyboards, bass and an almost hip-hop rhythm, offsetting his resolve in the refrain: "I don't know how a man decides what's right for his own life/ It's all a mystery." It's a stunning pop song-- easily this album's "Waitin' for a Superman"-- with an intensely memorable melody and the conflict of Coyne's internal dialogue resonating positively on many levels.
Yoshimi shines again with the superior "Ego Tripping at the Gates of Hell," which pits more existential lyrics over a far more satisfying collage of sounds (vocal samples, snippets of mellotron, a lumbering bass). "I was waiting on a moment, but the moment never came," croons Coyne, echoing the issues of readiness and bravery "Fight Test" raised, but also betraying Yoshimi's greatest weakness: the moment never comes.
The closest the Lips do come is on the divine "Are You a Hypnotist?," if only for the brief return of some actual drums (brilliantly tracked to create some glitchy, idiosyncratic fills impossible to play in real life). Coyne indulges in wordplay such as, "I have forgiven you for tricking me again/ But I have been tricked again/ Into forgiving you," as the song builds to a distorted swell of fuzzy static and some otherworldly choir.
"Do You Realize" buzzes and clangs with overproduction, as Coyne breezes through a list of trite observations like, "Do you realize that everyone you know someday will die?" and, "Let them know you realize that life goes fast/ It's hard to make the good things last."

quarta-feira, novembro 16, 2005

Rock freak

Por Leandro Fortino - da Folha
Letras inspiradas na natureza e na coletividade pintam com cores psicodélicas o som de algumas bandas da atualidade.Comunhão com a natureza e colaboração com a coletividade são ordens a serem seguidas. Esse espírito hippie típico dos anos 60 ainda impera, pelo menos na temática, na atitude e no comportamento adotados por algumas das bandas de rock dos dias de hoje.
No topo da lista do que poderia ser denominado "rock freak" está a veterana Flaming Lips (leia entrevista ao lado), atração mais surpreendente do festival Claro que É Rock, que acontece no dia 26, em São Paulo, e, no dia seguinte, no Rio.
Outras bandas desse, digamos, "movimento" fizeram shows no Brasil recentemente: a canadense Arcade Fire, que mostrou no palco uma verdadeira festa (em que o clima de companheirismo imperou entre os integrantes que, entre si, trocavam de instrumentos o tempo todo), e a americana Mercury Rev, liderada pelo guitarrista e vocalista Jonathan Donahue, que foi da formação do Flaming Lips nos anos 90 e que incorporou a natureza ao rock viajandão.
A Inglaterra é representada pelo quarteto The Magic Numbers, formado por dois casais de irmãos. Eles lembram muito (mesmo) o grupo Mamas & the Papas, mas o som traz um forte espírito folk, que também é muito relacionado à cultura hippie.
A vida em comunidade também remete aos anos 60, e o grupo de Nova York Clap your Hands Say Yeah se beneficia disso.
Foi por meio de comunidades na internet que a banda ganhou projeção internacional com um som que lembra o Talking Heads, um dos grupos mais imitados pela nova música americana e que também serviu de inspiração para outra banda de "rock freak", o Modest Mouse. "Boas notícias para quem ama más notícias" é o nome do melhor disco deles. Mais freak, impossível.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Medo

Rio: cidade entregue à própria sorte
Por Cora Rónai
Sábado à tarde. Almoço com um grupo de amigos queridos, jornalistas em sua maioria, numa das residências mais simpáticas e hospitaleiras do Leblon. Antes da sobremesa, a filha da dona da casa informa, em tom casual:
— Pessoal, o túnel está fechado, se alguém de São Conrado ou Barra quiser dormir aqui, não tem problema, a gente se ajeita.
— Fechado, é? Por quê?
— Tiroteio.
— Ah, para variar...
Comunicado e convite foram aceitos com absoluta naturalidade, felizmente ninguém era de São Conrado ou da Barra e a conversa voltou ao tópico anterior.
Na segunda à noite fui jantar com uma amiga que mora na Gávea, numa casa projetada por Lúcio Costa, cercada de árvores, pássaros e miquinhos, e com uma das vistas mais espetaculares do Rio. Um pequeno paraíso de alvenaria e natureza, em proporções perfeitas; mas minha linda amiga estava exausta.
— O problema é que não consegui pregar o olho a noite inteira. O barulho do tiroteio estava insuportável. Tinha uma metralhadora que parecia estar dentro do meu quarto.

Há algum tempo, um amigo que mora na Barão da Torre me ligou de tarde. Tínhamos combinado cinema no Estação Ipanema.
— Olha, acho que não vai dar para chegarmos a tempo.
— Ué, por quê?
— Você não está ouvindo o tiroteio da tua casa?
Ele levou o telefone para a janela. Parecia queima de fogos de Ano Novo. Mas, como moro atrás do Cantagalo, o paredão de pedra que dá para a Lagoa isola o barulho. Desistimos: quando tem tiroteio, engarrafa tudo. Assim que ele desligou, aliás, um segundo amigo que estava passando pela área me ligou do carro:
— Olha, se você tiver que sair de casa e pegar a Barão da Torre, esquece, porque está tendo um tiroteio e ficou tudo engarrafado.
Na cobertura do Gravatá, na Praça General Osório, que realmente fica pertíssimo do Cantagalo, os tiroteios são, freqüentemente, a trilha sonora da conversa.

Mamãe mora num apartamentinho antigo e aconchegante na Barão de Macaúbas. Esta é uma pequena rua de Botafogo, muito arborizada, cheia de prédios baixos e amáveis, e que sai de uma praça na São Clemente. A rua vive fechada pelas balizas que os meninos da vizinhança improvisam com pedras ou tocos para jogar futebol. Seria um oásis urbano se não fosse, por acaso, um dos acessos para o Dona Marta. Às vezes, a coisa fica feia. Mas o apartamento da Mamãe está, felizmente, fora da linha de tiro, de modo que a gente não chega a se preocupar muito.

quinta-feira, outubro 20, 2005

Crash - no Limite

Por Contardo Calligaris
Seis anos atrás, um filme prodigioso, "Magnólia", de Paul Thomas Anderson, produziu em mim um efeito parecido. Quem assistiu a "Magnólia" deve se lembrar do momento em que todos os personagens, separada e simultaneamente (cada um em seu lugar trágico), cantam uma mesma música, que é uma espécie de hino ao caráter inelutável da vida: "...and it is not going to stop, till you wisen up..." (e não vai parar até que você crie juízo). É um exemplo perfeito da "alegria" melancólica que é fruto da aceitação do mundo como ele é. Pois bem, está em pré-estréia em São Paulo "Crash - No Limite". É o primeiro filme de Paul Haggis, que foi roteirista de "Menina de Ouro". Quando o filme saiu nos Estados Unidos, no ano passado, a crítica (elogiosa) salientou a apresentação brutal da difícil convivência de etnias diferentes na sociedade americana. De fato, o filme é um soco no estômago de quem acredita nos efeitos lenitivos do politicamente correto: latinos, negros, brancos e orientais se agridem e se insultam pelas ruas de Los Angeles. Parece fracassar a esperança (americana e, em geral, iluminista) de um caldeirão em que as diferenças étnicas, culturais e sociais seriam quase irrelevantes e prevaleceria o sentimento de pertencermos todos à mesma espécie. Mas dizer que o filme de Haggis mostra a morte do sonho moderno da convivência dos diferentes seria, no mínimo, ingênuo. Ao contrário, o milagre de "Crash" (choque ou batida) é que, no filme, a feiúra e a loucura do cotidiano, assim como o próprio choque das diferenças, nos aparecem como provas de nossa humanidade comum. Pensando bem, aliás, a única versão possível do sonho moderno talvez seja esta: não a paz e o respeito recíproco, mas a descoberta de um lote de misérias e incertezas que enxergamos nos outros porque, no fundo, são sempre parecidas com as da gente. O sonho moderno não se realiza numa fanfarra de nobres idéias compartilhadas, mas na ternura de nosso olhar diante da imperfeição do mundo, ou seja, de todos nós. Um policial abusa de sua autoridade para enfiar a mão entre as pernas de uma mulher na hora de revistá-la; o mesmo policial pode arriscar a vida para salvar a dita mulher do fogo. Um jovem bem intencionado é horrorizado pelo preconceito racial, mas (reflexo de defesa) é o primeiro a atirar num negro que enfia a mão no bolso. Um assaltante de carros pode atropelar um chinês mas pode também soltar um carregamento inteiro de imigrantes ilegais fadados ao trabalho escravo. A arrogância de uma dama de classe "A" acaba quando ela cai na escada de casa e o único abraço que ela encontra é o de sua empregada. A arrogância de um guardião da lei acaba quando ele assiste o pai doente no meio da noite. E por aí vai. Isto é, lá vamos nós: meio heróis, meio pilantras, capazes do pior e do melhor. Assim é a vida, no tom certo. Não perca "Crash - No Limite" sob nenhum pretexto.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Lyrics

"Wake Up"
Arcade Fire
Somethin' - filled up - my heart - with nothin' - someone - told me
not to cry. - but now that - i'm older - my heart's - colder - and i
can - see that it's a lie.
children - wake up - hold your - mistake up - before they - turn the
summer into dust. - if the children - don't grow up - our bodies get
bigger. but - our hearts get torn up - we're just - a million little
gods causing rain storms - turning every good thing to rust. - i guess
we'll just have to adjust.
with my lighning bolts a-glowin' i can see where i am going to be when
the reaper he reaches and touches my hand.
with my lighning bolts a-glowin' i can see where i am goin'.
better look out below!

terça-feira, outubro 11, 2005

Querido Diário

Ontem não havia nada de bom na tv, mas fiquei zapeando até perder a paciência e mudar para o computador.Naveguei um pouco, mas decidi ir dormir.Tenho essa mania de adiar as coisas como se o amanhã sempre fosse estar lá. Bia dormiu comigo e acabei dormindo mal, pois ela se mexe muito e eu tenho o sono leve demais.Quando o sol nasceu, levantei para ligar o ventilador.Aproveitei para ir ao banheiro e abri logo a porta da cozinha para Rosário.Minha rua é muito barulhenta e estão fazendo uma reforma num prédio próximo.Os ônibus e vans passam toda hora. O pior são os caras gritando os destinos das vans.Às 8 horas, levantei sonolenta para fazer o café.Depois fui para o clube fazer minha musculação.Pensava no post da Denise sobre a Kylie Minogue.Resolvi não prestar atenção na música que estava tocando.Ainda bem que hoje eles não colocaram aquela fita com J Quest,Claudinho e Bochecha e Tim Maia.Nada contra esse último, mas ninguém aguenta mais essas mesmas músicas.Pensei em gravar uma fita que estimule as pessoas a fazer exercícios. Vamos ver, o que poderia colocar que agradasse gregos e troianos? Nitzerebb,front 242,Depeche Mode, Style Council.Vou tentar fazer uam compilação.Any suggestions?

segunda-feira, outubro 10, 2005

As Dores do Crescimento

Por Dulce Quental
Provas de amor são fundamentais. Carinhos diários, declarações explícitas. São como água, luz e sono. Precisamos de confirmação: somos amados ou não? Somos passíveis de sermos amados ou nos fecharemos como ostras incrustadas em pérolas perdidas no fundo do mar? Nem o escafandrista virá nos salvar quando a civilização submergir - como o Pinóquio do Inteligência Artificial, de Kubrick e Spielberg - ficaremos eternamente congelados à espera da estrela azul que nos dirá, o que precisaremos sempre ouvir: somos desejados e amados pela grande mãe terra.
E se isso não acontecer e provas de amor não chegarem? A cada dia minguaremos, cada vez mais tristes, até o dia em que, trancados em nós mesmos, adoeceremos, num oceano de incertezas sem fim. Pois assim funciona o sabotador. Pronto para atacar à sombra da primeira dúvida. Aquela idéia para uma nova canção? Desprezamos. Não é boa, o suficiente. O amigo que ligou pra conversar? Sob as lentes do nosso novo estado de humor, não é capaz de compreender o que estamos passando. Pois nos sentimos sozinhos, isolados e desimportantes à luz do mundo.
Na verdade o que aconteceu é que fomos feridos. A fonte vital que alimenta o nosso entusiasmo foi atingida. Enfraquecidos na nossa autoconfiança acreditamos no ouro dos tolos. Estamos à mercê do mundo e do que ele diz de nós. No momento não há nada a fazer. Só nos resta lamber as feridas e dar tempo ao tempo, pois um silêncio entre nós e o mundo há de se perpetuar por algumas semanas até que descubramos como nos reerguer de novo.
Mas como isso acontece? Por que não conseguimos nos proteger da agressão/omissão do mundo e das pessoas? Será que já não vivemos tempo suficiente para aprendermos o fundamental? Nem sempre as coisas saem do jeito que esperamos. Mesmo assim aprendemos a seguir em frente. Mas por que nem sempre funciona ? Por que às vezes nada funciona?
Dizem que certas doenças demoram anos pra se instalar dentro de nós. Elas trabalham em silencio, nas lacunas que nós não preenchemos. Como sujeira debaixo de um tapete que não limpamos. Até que um dia, como o monstro do lago Ness, atacam, nos surpreendendo com seu golpe mortal.
Tendo a achar que sofremos a vida inteira dos mesmos males. Nossos maiores medos estão sempre voltando a nos aterrorizar. Velhos medos com novas máscaras. Cabe a nós criarmos novas porções de cura, cada vez mais mágicas e rápidas a fim de desmascarar esse nosso vilão de estimação.
Precisamos aprender a gerar amor quando ele não vem de fora. Como artistas, somos processadores de vida, geradores de mudanças, agentes de transformação, dentro do mundo real, mas principalmente do mundo invisível. Somos magos, alquimistas, surfistas de idéias e sinais. Com nossas tintas e tijolos de papel erguemos catedrais onde antes só havia vazio. Até ficarem prontas, somente nós enxergamos, e talvez alguns aliados e amigos, que acreditam também que sonhos podem ser reais. Mas enquanto isso, somos os seres mais solitários do mundo.
Meio Dom Quixotes e Sanchos Panças, trabalhamos com nossos moinhos de vento, contando formigas e fuxicando caixinhas de recordações. Como crianças na Terra do Nunca reaprendemos a nos desprender e a brincar. Pois esse é o nosso oficio: guardar a inocência do mundo. Mas como curar uma ferida profunda? Parece que quanto mais olhamos pra ela, maior fica. Descobri muito recentemente que dar amor, atenção e carinho para alguém próximo, ou mesmo desconhecido, é um meio de cura muito eficaz. Talvez agora eu possa entender a vocação de certas pessoas que passam a vida em seus consultórios escutando a dor alheia. Só quem foi ferido profundamente pode curar alguém. A compaixão é um sentimento que gera um bem estar para todos os envolvidos.
Ajudar alguém é ajudar a si próprio através do outro. Pois não somos tão diferentes assim. Estamos todos sob o mesmo abandono universal, sob o mesmo fogo cruzado, sob a mira da mesma bala perdida ou do mesmo homem-bomba. Podemos explodir a qualquer momento. Podemos ser assaltados, roubados, traídos, excluídos e porque não também amados. Mas para tanto e tal precisamos correr riscos. E correr riscos muitas vezes significa estar vulnerável, inclusive para experiências ruins. Pois não há como estar aberto para a vida sem que não sejamos atingidos por ela.
Ser atingido muitas vezes é ser mal interpretado. Ser subestimado. Ser julgado e condenado. Mas e daí. Esse é o preço de quem ama a liberdade. Nietzche dizia que "quem ama o abismo precisa ter asas". O nosso problema é que saltamos quase sempre sem rede de proteção. "Salte e a rede aparecerá", "a providência age com quem tem coragem", dizia Goethe, "pois a coragem possui algo de genialidade intrínseca".
Nem sempre. Às vezes um charuto é apenas um charuto e nada mais. Não há interpretações. Nem compensações. Só conseqüência. Fatos e fins. E assim quebramos a cara, perdemos as apostas e ganhamos mechas brancas de maturidade.
"Naquela manhã Suzan não viu a cara do sol. Se tivesse saído para dar um dos seus passeios matinais talvez tivesse descoberto uma mina de ouro há poucos metros do banco onde costuma se sentar. Sir Eduard e seu cão passeavam...". E assim passou a vida de Suzan, que nunca se casou, nem conheceu o "amor maior".
Fincar bandeiras solitárias em áreas de risco. Um trabalho de resistência humana. Ser capaz de morrer por uma idéia. Ser capaz de abrir mão de confortos burgueses. Aprender a viver com pouco. Somente o essencial. Precisamos de uma nova ideologia para o caos das relações nos dias de hoje.
"Se tudo caiu, que tudo caia", me lembro bem dessa letra do Antonio Cícero, cantada pela Marina. Está na hora de juntar os caquinhos. Restos de esperança. Pitadas de boa vontade. Muito descanso e carinho de quem vale de verdade. As palavras com sua alegria voltarão quando você menos esperar. Como um dia de sol depois da chuva. Você vai acordar e dizer: "Foi só uma gripe, hoje estou me sentindo ótima!"
Dulce Quental é cantora e letrista.

domingo, outubro 02, 2005

Ser mãe é padecer no paraíso...

Depois de mais de uma semana de chuva, o sol brilhou na sexta-feira e o sábado também amanheceu ensolarado.Mas não deu para aproveitar.Até tinha sido chamada pra um churrasco na casa de amigos,entretanto Bia acordou indisposta, com sintomas de uma gripe e logo estava com febre.Lá fui eu à farmácia, ao supermercado, me dividindo entre a cozinha e o quarto.À noite a febre chegou aos 39°.Hoje pensei que ela fosse acordar um pouco melhor.Não quis tomar a vitamina e nem o pão que preparei.Fiz uma sopa de legumes para o almoço, mas ela não quis comer e ainda derramou o suco na sala.A febre voltou, ela adormeceu, acordou e correu para o banheiro para vomitar.Lá vou eu limpar tudo.Ela agora está dormindo, o céu está nublado e estou cansada.Realmente devia ter feito medicina ou enfermagem, sei lá.Nunca fui de estudar muito.

sábado, setembro 24, 2005

sexta-feira, setembro 23, 2005

Do you believe in God?
Estamos procurando uma nova escola para Bia.Como vamos nos mudar para o Rio no ano que vem e pensamos morar em Copacabana, a primeira opção foi o colégio Sagrado Coração de Maria. Bia falou que não quer estudar em um colégio católico.Nós a batizamos, não sei bem porquê, já que nem eu ou meu marido seguimos qualquer religião, mas fomos batizados.Claro que ela era muito pequena para saber o que estava se passando.Ela nunca assistiu nenhuma missa,embora já tenhamos entrado em várias igrejas.Nunca me preocupei em ensinar religião para ela, então creio que é normal essa falta de curiosidade pelo assunto. Quando minha mãe ou minha tia tentou ensinar algumas orações para ela, Bia não quis nem saber, ficou até mesmo aborrecida com o assunto.Algumas amigas da escola estão fazendo catequese, para se preparar para primeira comunhão e ela disse que "isso é besteira".Normalmente as crianças se mostram crédulas nesses assuntos e só mais tarde ficam céticas, como eu.Então como vou querer que minha filha acredite em algo que não acredito? Só me espanta um pouco, ela tão nova, já ter essa convicção.
Como dizia John Lennon, God is a concept by which we measure our pain.O homem inventou Deus para suportar o fardo de sua existência sem propósito.

quarta-feira, setembro 14, 2005


Olhando as fotos da viagem, percebo que poderíamos ter tirado muitas mais.
Chegamos à Bariloche no sábado, dia 03, por volta do meio-dia.O vôo estava lotado e ficamos na última fileira do avião, não tinha nem janela!Ficamos hospedados no centro, numa hosteria chamada Casita Suiza, bem simpática. Tinha internet de graça,tv à cabo e secador de cabelo.Como estávamos com fome, fomos almoçar numa trattoria italiana chamada Familia Bianchi.Cada um, escolheu sua massa e tomamos um garrafa de vinho tinto.Curioso é que nunca tinha suco de uva, era sempre laranja, então Bia teve que tomar água a viagem inteira.Depois do almoço, acho que acabamos perdendo tempo.Já deviamos ter saído para fazer algum passeio, pois ainda tinha sol.Passeamos pelo Lago Nahuel Huapi, fomos até o Puerto San Carlos ver o pessoal patinando num pequeno rinque de patinação.Tiramos mais algumas fotos no Centro Cívico, onde estavam os cães da raça São Bernardo.2 pesos para tirar uma foto.Compramos chocolate na Fenoglio na movimentada rua Bartolome Mitre. Decidimos marcar a primeira excursão para o dia seguinte: Cerro Tronador.Estava chuviscando, um frio de 4°C. Alugamos roupa,luvas e botas para a neve.Fomos dormir cedo. No domingo de manhã, o micro ônibus e a nossa guia - muito sorridente e cordial - veio nos apanhar às 9h.O Cerro Tronador fica à apenas 85km do centro, mas o passeio dura o dia inteiro porque vamos devagar e paramos várias vezes. Para pagar o pedágio, para vermos as trutas no lago - e claro que tinha um pequeno café vendendo chá de rosa mosqueta e outras coisinhas - e mais à frente, o mirador do Lago Mascardi, mencionado no post abaixo.Então já está na hora do almoço e paramos num pequeno restaurante de um camping.Acabei pedindo um Choripan que tomei com una copa de tinto, por supuesto. Finalmente chegamos bem próximo ao Cerro Tronador. Tivemos que descer um pouco antes, pois o micro ônibus não subia, e seguir à pé.Nem estava tão frio e estávamos ansiosos para pisar na neve.Call me a fool but it was awesome.It's such a beautiful place. Brincamos na neve feito crianças.Eu e Bia jogamos bola de neve uma na outra.Mas é difícil fazer um boneco de neve.Quando nos demos conta, já estava na hora de voltar. De volta para a cidade, jantamos no restaurante Familia Weiss. E por hoje é só, porque me cansei.

Essa foto não faz jus à beleza do lugar.Foi tirada do mirador Lago mascardi, dentro do Parque Nacional Nahuel Huapi na excursão que fizemos para o Cerro Tronador. Uma paisagem deslumbrante que transmite muita paz e tranquilidade, como dá para preceber pela serenidade do lago.

terça-feira, setembro 13, 2005

Viagem à Argentina




Fotos tiradas em Bariloche: cerro Tronador, Cerro Catedral, Parque Nacional Nahuel Huapi.

domingo, agosto 28, 2005

Assim falou Martha Medeiros:
Seja através de clichês cinematográficos ou de prosa da mais alta qualidade, a verdade universal é que só o amor nos humaniza de fato. Pode-se gostar ou não desta idéia, ela pode ser claustrofóbica para uns e libertária para outros, mas o mundo dá voltas e voltas e chega sempre neste ponto, o de que o amor é mais importante que o dinheiro, que o sexo, que a beleza, ainda que tudo isso seja ótimo também. Mesmo com uma vida recheada de acontecimentos, se estivermos ocos, não veremos muita graça em nada. Poderemos até parecer independentes, inteligentes, modernos, sofisticados... mas só o amor responde às nossas indagações — indagações que podem também ser divertidas, inspiradoras... mas ainda irrespondíveis sem amor. Sem amor, neca. Sem amor, babaus. Sem amor, o resto é consolo.
Vale amor por um cachorro, por um projeto, por si mesmo? Prefiro acreditar que sim, que o amor sem conotação romântica também pode justificar uma existência, que ele pode tornar uma pessoa, senão plena, ao menos leve e alegre, sem necessidade de buscas intermináveis. Mas não é isso que nos dizem livros, filmes, músicas, poemas. Se não amamos alguém, é uma vida vivida sem integralidade. Pode até ser uma vida boa, mas não uma vida que valha a pena ser contada.
Diante desta sentença, fazer o quê: é ele que desejamos, é por ele que procuramos, é nele que queremos tropeçar, nem que seja aos 90 anos, nem que seja quando estivermos secos depois de fazer tanta burrada, nem que seja para durar três dias, nem que seja para nos fazer sofrer, nem que nos arrebentemos, como tantos se arrebentam em seu nome. Diz o personagem de García Márquez, torturado pelo amor: “Não trocaria por nada neste mundo as delícias do meu desassossego”. Quem mais nos colocaria assim de joelhos? Sem amor, nos resta a paz. Porém uma paz sem gosto.

sábado, agosto 27, 2005

The United States of Leland (2003)
Director: Matthew Ryan Hoge
Cast: Ryan Gosling, Kevin Spacey, Don Cheadle, Chris Klein, Jena Malone, Lena Olin, Michelle Williams, Martin Donovan.
Leland: This one is something a friend of mine said to me. "You have to believe that life is more than the sum of its parts, kiddo." I remember it right now to the "kiddo" part. But when I think about what she said, the same thing always comes into my head. What if you can't put the pieces together in the first place?
I think there are two ways you can see the world. You either see the sadness that's behind everything or you choose to keep it all out.
Maybe it makes sense now. Maybe somewhere in all of this there's a reason. Maybe somewhere in all of this there's a why. Maybe somewhere there's that thing that lets you tie it all up with a neat bow and bury it in the backyard. But nothing, not getting angry, not prayers, and not tears, nothing can make something that happened unhappen.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Querido amigo
Faz algum tempo que não recebo notícias suas, por isso e também por uma grande necessidade de desabafar, te escrevo hoje.Venho sentindo uma enorme angústia no peito, às vezes parece que vou sufocar ou cair no choro. Às vezes, tenho vontade de chutar tudo que está ao meu alcance. Estarei perdendo a razão? Ainda não, pois consigo cumprimentar as pessoas nas ruas e seguir a rotina, mecânicamente. Mas por dentro, alguma coisa morreu ou está adormecida, não sei bem. Me impressiona como qualquer coisa me irrita nesses dias. Tudo é demais. O sol forte, a buzina dos carros,o som vindo da tv... a comida não desce bem. Sabe quando você chega numa encruzilhada e não consegue decidir que rumo tomar? Assim tem sido minha vida e parece que me coloquei numa situação da qual não consigo sair.Estou cansada de brigas, acho que conseguiria viver sem amor mas não sob eterno conflito.
Foi bom entrar no carro e pegar a estrada, somente eu e Bia. Deu uma certa sensação de liberdade que não durou. Logo estávamos no Rio e de novo aquela sensação estranha de que algo está errado. O comportamento de Bia por vezes também me espanta.Tudo isso deve está refletindo nela.Sim, com toda certeza. I surely need some advice. Não estou te contando tudo aqui mas minha cabeça não anda muito boa. Um abraço!

sexta-feira, agosto 12, 2005

Nine Black Alps
Ten out of ten for a race already run
Bleeding the world cause you can't figure out what's wrong

So come back down from your daydream high
Lost for words when you sympathize
There's a million ways to believe you tried

Well I'm
Unsatisfied
Unsatisfied
Just sick and tired of all I've tried
Unsatisfied

So long since the one lit up your life
So long since you heard from the world outside

Turn yourself into part of the plan
Knock you low, find out where you stand
There's a million ways to believe you can

Well I'm
unsatisfied
Unsatisfied
Just sick and tired of all I've tried
Unsatisfied

Should look where you're going
Or where you're gonna hide
Should be feeling something
Of another life

Unsatisfied
Unsatisfied
Unsatisfied

So why'd you wanna hide every little lie?
Keeps it inside

terça-feira, agosto 02, 2005

Chère Lina,

27.07.2005 | Chegamos a Paris há três anos. Você não falava uma palavra de francês. Nem o seu sotaque tinha se firmado, já que vivera um ano em São Paulo e quase dois no Rio. A mudança não a assustou nem um pouco. Você tinha menos de três anos e gostou da informação de que Paris estava cheia de carrosséis.
Chegamos num domingo. Nosso primeiro passeio foi a Montmartre, onde sabíamos que havia um carrossel permanente. Nossa primeira providência prática foi ir à Samaritaine, no dia seguinte, comprar um carrinho-de-bebê. Lá aprendemos juntos como é carro-de-bebê em francês, poussette. Aproveitei e te comprei dois bonequinhos, um príncipe e uma princesa. Também viemos a aprender a tradução de “carrossel”, manège. Você andou em dezenas de carrosséis em Paris. O da Place d’Italie, o das Tuilleries, o do Hôtel de Ville, o do Jardin du Luxembourg e sobretudo o do Jardins des Plantes, com animais extintos, em frente à sua escola. Um euro, uma volta.
Suas aulas começaram na quinta-feira seguinte. Você era a única que não falava francês na classe de vinte-e-cinco crianças da Petite Section de la Maternelle da escola da rue Buffon. À noite, em casa, quando alguma coisa caiu no chão, você disse a sua primeira expressão em francês, que certamente ouvira na escola, naquele dia: Oh la la!
Escola pública, cujas aulas começavam às oito e meia da manhã e terminavam às quatro e meia da tarde. Você nunca se sentiu à margem nem se queixou de isolamento. Ao contrário. Sempre quis ir à escola. Eu ficava imaginando se, de supetão, me botassem numa classe com vinte-e-cinco búlgaros, qual seria a minha reação. Acho que não gostaria.
Aos poucos, você foi entendendo o que falavam, e se fazia compreender. Sua primeira professora, Noëlle, nos contou que sabia o que queria dizer “molhado” em português. Foi a primeira e única palavra em português que Noëlle aprendeu. Em contrapartida, rapidamente você começou a falar bonjour, merci, au revoir. Hoje, você brinca e sonha em francês. Corrige a minha pronúncia. Faz trocadilhos e jogos de palavras. Usa expressões e gírias. P’tit dèj em vez de petit déjeuner (café-da-manhã), cap no lugar de capable (capaz). Ficou com dois nomes, Lina e Liná. Os franceses pensam que você é francesa.
Jamais vi um processo de aprendizagem tão fluido, rápido e eficaz. Sim, sei que com a maioria das crianças acontece a mesma coisa. Ainda assim, me espanta não só a facilidade mas a alegria com que você adquiriu o seu segundo idioma. O seu temperamento, além da sua inteligência, talvez tenham a ver. Há também a curiosidade e o afeto de seus coleguinhas. De Esther, que, um pouco maior que você, te protegeu e ajudou nos primeiros tempos. E houve o empenho e a capacidade de suas maîtresses, Marie-Hélène, Violeine e Cécilia, além de Noëlle, e das diréctrices, madames Goirand e Anner.
3, rue de L’Essai. Nosso endereço. No Cinquième. Uma ruazinha de uns cem metros, começando no Boulevard Saint-Marcel e terminando na rue Poliveau. “Essai” porque numa rua paralela, a Geoffrey Saint-Hilaire, no tempo de Luiz XIV, havia um mercado de cavalos. Os compradores iam experimentá-los (faire l’essai) no terreno ao lado.
Digitávamos o código, 61A84, a porta fazia um cléc, destrancava, e entrávamos no saguão. Víamos, à direita, se não havia correspondência na nossa caixa de correio. Abríamos a outra porta interna, virávamos à esquerda e subíamos o lance de escadas até o primeiro andar. À direita, a porta vermelha-escuro do nosso apartamento, com seu capacho em forma de cachorro, que você chamava de petit chien e insistia para que não pisássemos no rosto dele.
Dentro, logo à direita, ficava o toilete. À esquerda, os cabides onde pendurávamos os seus casacos. Seguindo no corredor, à direita ficava a pequena cozinha, com a pia, o fogão, a máquina de lavar, a mesinha e o pequeno armário. Ali passei várias horas. Não tivemos empregada e uma das minhas funções domésticas era lavar louça. Logo fui coroado Roi de la Vaisselle.

Ao lado da cozinha ficava o seu quarto. Você dormia na cama da esquerda, sempre com o seu macaquinho de estimação. Ali, todas as noites, você ouviu histórias de princesas, de fadas, de feiticeiras, de heróis, de seres fantásticos. Cendrillon, La Belle au Bois Dormant, Achiles, Ulisses, La Belle et la Bête, Raiponce, Hélène, Athéne, Blanche Neige, Jason, Les Argonautes. Os irmãos Grimm, Perrault, Homero, mitologia, contos populares, folclore.

No fim do corredor ficava o banheiro, com a pia e a banheira. Ao lado esquerdo, o meu quarto-escritório. Na sala ao lado ficava a mesa de almoço, o sofá e a pequena televisão. Apartamento antigo, com lareira na sala e nos dois quartos. Na lareira da sala montamos o seu castelo de madeira, onde você botou todos os seus personagens. Ao príncipe e à princesa, acrescentamos o rei, a rainha, a bruxa, outra princesa, o cavaleiro, o cavalo. Você passava horas na frente da lareira com os bonecos, imitando vozes, inventando histórias.
As janelas da sala e do meu quarto davam para a rua, onde poucos carros passavam, apesar de, à esquerda, haver uma garagem. O seu quarto e a cozinha davam para o pátio interno. Descíamos lá para jogar o lixo na poubelle. Cumprimentávamos e trocávamos algumas palavras com os vizinhos: o velhinho meio surdo que sempre falava que ia esfriar; a moça do térreo, com um novo namorado a cada encontro; a senhora da porta em frente, que veio do Irã e trabalhava na Printemps do centro comercial da Place d’Italie; o casal de jovens que ficava em frente à sua janela; o menino que subia a escada de patins; o casal de gordões que morava em cima do nosso apartamento, e felizmente só marchava a passos pesados e apressados na hora em que acordávamos, sete e meia da manhã.
Você plantou uma muda de morangueiro no jardim do pátio. Durante duas primaveras nos regalamos com os teus moranguinhos.
A tua, a nossa vida, transcorriam entre o Sena, o Jardin des Plantes, a rue Mouffetard, a Grande Mesquita e a Place d’Italie. Dentro desses limites ficavam a casa, escola, a biblioteca, nossos bares e restaurantes, nossos cinemas e estações de metrô, nossas padarias e mercados, nossos amigos, a tua escola de música e a de balé, ambas da Prefeitura.

Nesses marcos, os nossos rituais. O café-da-manhã do sábado, no Baratin, no Poliveau ou no Le Sympathique, onde você pedia chocolate e pão com manteiga, e falava sem parar enquanto eu dava uma olhada no jornal. Eu logo desistia da leitura: nenhuma notícia valia os teus casos. O poulet de télé comprado no açougue nas manhãs de domingo, depois do cinema.
A barbearia, a mais antiga do bairro, na rue Daubenton, onde cortávamos o cabelo. Você, com o barbeiro baixinho e de cavanhaque. Eu, com o gordão bigodudo. Barbearia tradicional, de profissionais habilidosos no uso da navalha e das tesouras. Quantas vezes fomos lá? Dezenas.
O baile da rue Mouffetard, que logo virou “La Mouff”, onde dançamos, escutamos e cantamos velhas canções, acompanhadas pelo acordeon do senhor de boina e cabelos brancos. Compramos então um disco e não paramos de escutar e cantar “La mer”, “Au lycée Papillon”, “Un jour mon prince viendra”, “Le temps des cérises”, “Douce France”, “Lily Marlène”, “Papa n’a pas voulu”, “Je ne suis pas bien portant".
Não ficamos só no nosso bairro. Viramos Paris de cabeça para baixo. De metrô, ônibus e a pé. Em piqueniques, caminhadas, visitas. Acho que a lista dos teus passeios preferidos incluiria a catedral de Notre Dame, para ver os relevos atrás do altar, em madeira, contando cenas da vida de Jesus.
E o Bois de Vincennes, onde você foi dezenas de vezes, com a gente, com a escola e com a turma do Centre des Loisirs, onde você ficava nas quartas-feiras.
E o Museu d’Orsay, onde estão, no último andar, os quadros de Monet e Van Gogh.
E o Sena, entre as pontes de Austerlitz e Neuf, seja à bordo do Bateaubus ou andando pela margem esquerda.
E o Jardin du Luxembourg, onde você via o teatrinho do Guignol, andava no carrossel, passeava de pônei e voava na balança.
E o Opéra Garnier, onde vimos “Giselle”, “La Belle au Bois Dormant” e “Carmen”.
E a Place des Vosges, onde no verão da canicule você tomou banho peladinha na fonte.
E o Jardin des Tuilleries, também no verão, para ver Paris lá de cima, da roda-gigante, pular na cama-elástica e pescar patinhos de plástico.
E as piscinas, mais a Jean Taris que a Pontoise, cuja água era mais fria.
E o Train Bleu, onde comemoramos sempre o aniversário da mamãe, mais pelo ambiente do que propriamente pela comida.
E o Institut du Monde Arabe, onde você teve uma aula sobre os quadros de Matisse no Marrocos e copiou um deles.
Dias depois, aor irmos de ônibus para Saint-Germain, você nos contou como foi o atelier Matisse au Maroc. Contou com tantas minúcias e detalhes, com tal objetividade, que tive medo que você viesse a ser jornalista. Ainda bem que você disse que quer ser princesa, ou bailarina, ou poeta, ou ilustradora, ou padeira.
Esses lugares são muito íntimos, demasiadamente nossos, para serem também Paris.
***
Não ficamos só em Paris.
Fomos à Savóia, onde fizemos guerra de neve em Annecy e vimos a catedral rosa de Strasbourg.
Ao Luberon, com seus campos de lavanda, seus vales suaves, seus delicados vilarejos .
A Marselha, onde visitamos a ilha-prisão do Conde de Monte Cristo.
À Bretanha, onde choveu o tempo todo e comemos galettes e crêpes até enjoarmos.
Aos Alpes, onde contemplamos marmotas e picos gelados.
À Normandia, onde escureceu quase à meia-noite.
Ao Périgord, com suas grutas, castelos e pinturas pré-históricas.
À Córsega, onde tomamos banho de rio e o céu tinha infinitas estrelas.
***
Não ficamos só na França.
Fomos à Croácia, onde visitamos a Gruta Azul e andamos nas ruas de mármore de Dubrovnik.
Não levamos para lá a poussette. Era fogo te carregar no colo no calor do verão. Você andava direitinho, mas às vezes cansava. Te contei que o marechal Tito, um antigo presidente da Croácia, proibira os pais de levar as crianças no colo. Só os bebês eram autorizados. Assim que viam pais com crianças no colo, os guardas intervinham. Você acreditou. E passou a andar o tempo todo. Quando você não aguentava mais, te pegávamos no colo. Apreensiva, você vigiava. Assim que um policial aparecia, voltava para o chão. De retorno à França, inventei que Jacques Chirac tinha feito uma lei igual à do marechal Tito. Nunca mais precisamos da poussette, que foi dada à Jeanne, a irmãzinha do Rémi. Está com ela até hoje.
Fomos a Veneza, aos seus canais, às suas igrejas, à laguna, à Academia, a Rialto, à praça de San Marco, onde os pombos te atacaram.
Fomos à Islândia. Tomamos banho de piscina sob a neve. Nadamos na Lagoa Azul. Vimos as cachoeiras congeladas. Você riu à beça quando escorreguei e caí ao lado de um gêiser.
Em busca do frio, das estrelas e da neve, fomos também à Lapônia. Tombamos do trenó de huskies. Não conseguimos pescar nada no buraco de gelo. Vimos campos imaculados de neve, pacatas renas, um iglu que dava num labirinto, um lago congelado, florestas de pinheiros imóveis, a pequena aurora boreal, o rubro amanhecer – et tous ces moments se perdront, dans l’oubli, comme les larmes dans la pluie..
Paris era o nosso ponto de retorno, o teu centro seguro, a tua vida verdadeira. A bela Paris. A cidade mais linda do mundo. A cidade que é obra humana. A cidade onde a beleza foi conquistada, construída e preservada. A cidade das grandes vistas. Dos monumentos gloriosos. A cidade cheia de história, e tão viva, tão dinâmica.
Em Paris, ma petite, você aprendeu o lento revolver das estações. Cada uma delas a mostrar uma cidade diferente. As tuas preferidas eram a primavera, com sua flores e folhas verdejantes, com o casaco finalmente deixado em casa, junto com o gorro, as luvas, a meia-calça de lã, o cachecol; e o inverno, com seus dias curtos, o vento, o cinza, céu baixo, o frio. Mas você amava também o outono, o demorado cair das folhas do Jardins des Plantes, os corvos e pássaros desaparecendo.
Em Paris, você aprendeu a arte da amizade. Joseph, Anton, Emma, Naama, Louisa, Timo, Esther, Jasmina, Pierre, Marie, Chloé, Nissim. No fim, até da Andréa você gostou. Queria convidá-la para ir em casa. A Andréa que você achava uma bruxa, e bolou mil planos para se livrar dela. Com eles você brincou, jogou, conversou, discutiu. Todos eles te amaram e a todos você amou.
Em Paris você teve o seu primeiro amor.
Rémi. Rémi Turquier. Um menininho francês: magricelo, branquinho, de óculos, sempre despenteado, tímido, inteligente. Vocês passaram três anos na mesma classe. Na Petite Section, vocês tinham direito a uma sesta depois do almoço. Ficavam em beliches vizinhos. Começaram a se contar histórias. Depois, filmes imaginários. Depois, inventaram máquinas fantásticas. Ficaram amigos. Os melhores amigos. Namorados, amoureux. Não namorados de brincadeirinha, por pressão do grupo. Vocês eram muito pequenos, tinham três anos, para se dedicarem a essas bobagens.
Na Moyenne e na Grande Sections, continuaram juntos. Lado a lado na classe, no recreio, na volta da escola, em passeios, em visitas à casa de um e outro, em festas de aniversário, na viagem à colônia de férias. As professoras, os colegas, os pais dos colegas, nossos amigos e conhecidos, todos diziam: eles formam um par, um casal, são namorados. Vocês se viam como namorados. Monsieur Paul, nosso marchand aux journaux, ouviu você falar do Rémi e perguntou se ele era seu melhor amigo. “Mais non, c’est mon amoureux!”, você respondeu. De mãos dadas, lá iam vocês, na nossa frente, na rua, andando e falando sem parar: patati e patata e patati e patata.
Quando você via algo interessante, ou um bom filme, ou ouvia uma história legal, a sua primeira reação era exclamar: “Preciso trazer o Rémi aqui!”, “É preciso, absolutamente, convidar o Rémi para ver esse filme!”, “Preciso contar isso ao Rémi!”
Nas viagens, você procurava folhas, flores e gravetos para levar ao Rémi. Na Islândia, pegou uma pedra em forma de celular e nos avisou: “estou telefonando para o Rémi”. Você deu um avião, um jogo de memória, desenhos e pinturas para ele. Ele te deu um saco de avelãs que colheu na casa dos avós, um anel com um golfinho e várias fivelinhas de cabelo. Vocês se amavam, ma chérie.
Por isso, tiveram os seus percalços. Passaram alguns dias cabisbaixos. Você nos disse que o Rémi não te amava mais. E o Rémi contou ao avô que a Liná não o amava mais. Depois, voltaram à alegria de sempre. Ao te esclarecer o sentido da palavra jalousie, ciúme, você me disse: o Rémi teve duas crises de ciúme. Numa, você estava de mãos dadas com o Joseph. O Rémi se encolerizou, berrou, tentou bater no Joseph e em você. No dia seguinte, voltaram à alegria de sempre. Noutra vez, você chorou porque o Rémi estava de mãos dadas com a Emma. Horas depois, voltaram à alegria de sempre.
Todos os teus problemas em Paris – os joelhos esfolados, os tombos, os resfriados, as briguinhas com os colegas, o prato de legumes, a irritação proveniente do cansaço, a teimosia – todos foram resolvidos, na média, em dez minutos.
Como separar Liná e Rémi, duas crianças apaixonadas de cinco anos? Como se separar de Paris? Ficamos preocupados, nós, os pais de Rémi, Natalie e Serge, os avós dele, os nossos amigos. Quando vinha o assunto da volta ao Brasil, você dizia que queria ficar em Paris. E falava de Rémi. Uma vez, brincando em casa, você disse a ele, muito séria: Tu va me manquer, Rémi, tu va beaucoup me manquer.
Há um mês, vocês passaram um sábado juntos. Foram à piscina Jean Taris com a Flavia. Se divertiram até ficar com os lábios roxos de frio. Fui encontrar vocês na sorveteria em frente à igreja de Saint-Médard. Você me disse, orgulhosa: “Veja como ele está penteadinho! Fui eu que o penteei”. Em casa, brincaram até tarde. Cada um na sua cama, ouvimos o ronronar, patati, patata, até que exaustos, caíram no sono. No dia seguinte, fomos levar Rémi até a casa dele, na rue de la Clef. Vocês ficaram tristes. Já na porta, na despedida, você começou a chorar, e foi chorando pela rua. Depois, Natalie contou que Rémi passou o resto do dia silencioso e arredio.
Cada um reage de uma maneira à cerimônia do adeus. Frédéric, o garçon do Baratin (que uma manhã, quando cheguei atrasado e com a cara amarfanhada para o café, me deu dois comprimidos para ressaca), disse: merde! Monsieur Paul perguntou, desolado, à mulher: “Mas como eu não vou ver Liná crescer?” Eles te deram três bonequinhas e uma revista de presente. Soria, a melhor amiga de mamãe, evitou uma despedida formal. Receio de chorar, acho. Monsieur Bonbon, do Austerlitz, te deu um saco de balas e pirulitos. Monsieur André, do Poliveau, parou de me cobrar o café e me chamou para um copo de vinho. Serge e Natalie nos convidaram para um piquenique. Anton e seus pais, Sophie, Abdel, Louisa e Timo também foram, além de Jeanne e Rémi.
Claudine e Hubert nos chamaram para um almoço de domingo, num restaurante chinês do Treizième. Keiko e Patrice também foram. As quatro crianças estavam lá. Era a mesma turma com a qual passávamos o domingo de Páscoa, numa casa de subúrbio à beira do Sena. Chegamos debaixo de tempestade. Patrice fez a sua hilariante imitação de Chirac. Na saída, estava sol, passeamos pela Butte-aux-Cailles. Keiko nos deu uma gravura caligráfica japonesa.
Às vezes, no entanto, eu te pegava desanimada. Ou pensativa. Às vezes, você me abraçava muito, e forte. Às vezes eu sentia que você estava triste, mesmo que não soubesse o que era a tristeza.
Te ensinei a Valsa da Despedida. Passamos a cantá-la em francês:

Faut-il nous quitter sans espoir
Sans espoir de retour?
Faut-il nous quitter sans espoir
De nous revoir un jour?

Ce n'est qu'un au revoir, mes frères,
Ce n'est qu'un au revoir!
Oui, nous nous rev’rons, mes frères,
Ce n'est qu'un au revoir!
E em português:
Adeus, amor, eu vou partir
Ouço ao longe um clarim
Mas onde eu for irei sentir
Os teus passos junto a mim
Estando em luta, estando a sós
Ouvirei a tua voz
A luz que brilha em teu olhar
A certeza me deu
De que ninguém pode afastar
O meu coração do teu
No céu, na terra, onde for
Viverá o nosso amor
De vez em quando, eu trocava o mes frères, e o “amor” do primeiro verso, por “Paris” e “Rémi”. Eu queria te ajudar, queria nos consolar. Você sorria. O seu sorriso maroto.
Vimos Rémi pela última vez nas Arènes de Lutèces. Vocês brincaram. Retomaram um caminho secreto, que dava no “ponto de vista” – um olho com um ponto no meio, que Rémi desenhara dias antes numa pedra. O tempo passou. Precisávamos ir embora. Mas você queria mais um jogo, mais uma brincadeira, mais alguns minutos, uns poucos instantes, um finzinho. Mas também queria, eu sei, ficar com Rémi. Para sempre. Você saiu chorando do parque. Estava sentida. Passaram os dez minutos e você voltou a sorrir. Estava novamente animada quando comeu um hamburguer na rue des Écoles.
Eu, não. Eu estava com o coração engruvinhado. Eu tinha um monstro na garganta. Eu estava moído pelo remorso. Eu pensava no tempo, esse bicho que anda e anda, pensava na máquina do mundo. Eu, avaliando o que perdera, seguia vagaroso, as mãos pensas.
***
Escrevo essa carta, minha filha, que um dia você lerá, para dizer que, contra toda evidência, acredito que Paris continuará contigo. O esquecimento, bem sei, é inexorável. Mas a memória também. Uma certa Paris continuará a viver dentro de você. Uma imagem da cidade, ainda que fugaz e esmaecida, restará na tua lembrança. A figura fugidia do amor e da felicidade.
Bisou,
Papa

domingo, julho 24, 2005

Right Where It Belongs

(Trent Reznor)
See the animal in it's cage that you built
Are you sure what side you're on
Better not look him too closely in the eye
Are you sure what side of the glass you are on
See the safety of the life you have built
Everything where it belongs
Feel the hollowness inside of your heart
And it's all
Right where it belongs

[Chorus]
What if everything around you
Isn't quite as it seems
What if all the world you think you know
Is an elaborate dream
And if you look at your reflection
Is it all you wanted to be?
What if you could look right through the cracks
Would you find yourself
Find yourself afraid to see?

What if all the world's inside of your heart
Just creations of your own
Your devils and your gods
All the living and the dead
And you really are alone
You can live in this illusion
You can choose to believe
You keep looking but you can't find the words
Are you hiding in the dreams?

sábado, julho 16, 2005

Eu Não sei Dançar

(Alvin L)
Às vezes eu quero chorar
Mas o dia nasce e eu esqueço
Meus olhos se escondem
Onde explodem paixões
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Às vezes eu quero demais
E eu nunca sei se eu mereço
Os quartos escuros pulsam
E pedem por nós
E tudo que eu posso te dar
É solidão com vista pro mar
Ou outra coisa p'ra lembrar
Se você quiser eu posso tentar mas
Eu não sei dançar
Tão devagar
Pra te acompanhar...

quinta-feira, julho 14, 2005

Imogen Heap _ Hide and Seek

Where are we?
What the hell is going on?
The dust has only just began to fall
Crop circles in the carpet
Sinking, feeling
Spin me around again
And rub my eyes
This can't be happening
When busy streets
Amess with people
Would stop to hold
Their heads heavy
Hide and seek
Trains and sewing machines
All those years
They were here first
Oily marks appear on walls
Where pleasure moments hung before
The takeover
The sweeping insensitivity of this still life
Hide and Seek
Trains and sewing machines (you won't catch me around here)
Blood and Tears
They were here first
Hmm, what'd you say, mmm, that you only meant well?
Well, 'course you did
Hmm, what'd you say, mmm, that it's all for the best
Of course it is
Hmm, what'd you say, mmm, that it's just what we need
You decided this
Hmm, what'd you say, mmm, what did she say?
Ransom notes keep falling out your mouth
Mid-sweet talk, newspaper word cut-outs
Speak no feeling, no I don't believe you
You don't care a bit, you don't care a bit
(Hide and Seek)

quinta-feira, julho 07, 2005

Sonetilho de verão

Paulo Henriques Britto

Traído pelas palavras
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.

A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.

O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.

terça-feira, julho 05, 2005

Bissexuais são gays enrustidos, aponta pesquisa

Estudo aponta que bissexualidade não é condição estável e definida
Benedict Carey
New York Times
Certas pessoas se sentem atraídas por mulheres; outras por homens. E algumas, se dermos crédito a Sigmund Freud, Alfred Kinsey e milhões de indivíduos que se descrevem como homossexuais, sentem atração pelos dois sexos.
Mas um novo estudo lança dúvidas sobre a existência da bissexualidade, pelo menos em homens.
O estudo, realizado por uma equipe de psicólogos em Chicago e Toronto, apóia aqueles que há muito tempo se mostram céticos com relação à hipótese de que a bissexualidade é uma orientação sexual distinta e estável.
Segundo esses críticos, as pessoas que se dizem bissexuais são geralmente homossexuais, mas são ambivalentes quanto a sua homossexualidade, ou simplesmente enrustidas. "Ou você é gay, ou heterossexual ou está mentido", conforme afirmam alguns gays.
No novo estudo, uma equipe de psicólogos mediu diretamente os padrões de excitação genital em resposta a imagens de homens e mulheres. Os psicólogos descobriram que os homens que se identificaram como bissexuais na verdade se excitavam exclusivamente por um ou outro sexo; na maioria das vezes por outros homens.
O estudo é o maior dentre vários pequenos relatórios que sugerem que os cerca de 1,7% dos homens que se identifica como bissexual demonstra padrões de atração física que diferem substancialmente dos seus desejos professados.
"As pesquisas sobre a orientação sexual têm se baseado quase que inteiramente em relatos pessoais. Mas esta nova pesquisa é um dos poucos bons estudos que utilizam medições fisiológicas", disse Lisa Diamond, professora associada de psicologia e identidade sexual da Universidade de Utah, que não participou do projeto.
"A discrepância entre o que está ocorrendo nas mentes das pessoas e aquilo que se passa em seus corpos é um quebra-cabeça que precisa ser resolvido, e ela faz com que questionemos o que se quer dizer quando se fala sobre desejo", afirmou Diamond. "Tínhamos assumido que todos queriam dizer a mesma coisa, mas aqui temos a evidência de esse não é o caso".

quinta-feira, junho 30, 2005

Pulp CSI

E o que foi aquele episódio de C.S.I. ontem, hein? Coitado do Nick, enterrado vivo e como se não bastasse, atacado por formigas lavapés - Solenopsis invicta- como descobriu Gil Grissom. Uma agonia que não desejo ao meu pior inimigo. E para completar, havia explosivos prontos para detonar se por acaso ele conseguisse levantar de sua tumba!Só não entendi porque o John Saxon se auto explodiu. Aqui, uma entrevista exclusiva com Tarantino: Behind the scenes.

quarta-feira, junho 29, 2005

Final de CSI dirigido por Tarantino

Quentin Tarantino é um fã assumido da série C.S.I: Crime Scene Investigation. Aqui, ele aparece ao lado do ator William Petersen (Gil Grissom)

Pôr do sol em Niterói

domingo, junho 26, 2005


Barra de São João, 24 de junho. 

quinta-feira, junho 16, 2005

Consensus Line:
Brooding and dark, but also exciting and smart, Batman Begins is a film that understands the essence of one of the definitive superheroes.
Acting
Bale leads the all-star cast, making the best movie Batman since Michael Keaton's excellently eccentric 1989 performance. Whereas Keaton's slight, intensely brilliant Wayne seemed to don the Batsuit to gain an edge of intimidation, Bale's Batman is simply a dark emblem expressing the rage and fury roiling underneath the billionaire's surface. His is a ferocious Dark Knight indeed. He's also effective portraying two other sides of the character's persona: the silly, randy public face of Bruce Wayne and the tortured real man underneath both guises. Of the potent supporting cast, Caine imbues Alfred with the appropriate fatherly warmth and wit while adding a fresh element of authority and capability as well; Neeson's multidimensional Ducard leaves one guessing if he's a hero, antihero, villain or all of the above; and Freeman is clearly having a ball as Batman's own "Q." Holmes is comely, capable and utterly superfluous; Tom Wilkinson tastefully chews the scenery as crime boss Carmine Falcone; and Murphy (once a close contender for the role of Batman himself) is tantalizingly creepy and villainous--the film could have used more of his off-kilter charisma. The only minor speed bump is Oldman's Gordon. His acting is always on the mark, but the character, so well-developed in the seminal comic book tale Batman: Year One, is never utilized to its fullest potential.
Direction
Along the way, every element of the Batman's back story is fleshed out in almost excruciating detail. Here's how he found the Batcave. Here's where he got the Batmobile. Here's why he has little pockets on his utility belt. Yadda, yadda, yadda. But some clever plot twists from director Christopher Nolan and screenwriter/professional comic book scribe David S. Goyer fuel the story's forward momentum. Nolan and Goyer work hard to inventively crib together a mélange of origin elements and plot points from influential comic book storytellers including original Batman creator Bob Kane, unsung early writer Bill Finger, Sin City's Frank Miller, David Mazzuccelli, Dennis O'Neil, Neal Adams and others (even bits and pieces from a comic story penned by Ducard's creator Sam Hamm, also the screenwriter behind Burton and Keaton's 1989 film). All these patches are effectively sewn into a clever quilt, creating a cohesive original tale told with entertaining gusto. However, the film does lack a certain knockout visual flair that defines the best comics--great, imposing "money shots" of the fearsome Batman are few and far between--and the action sequences are a tad too choppy, close-up and over-edited. Plus, for a film about a dude dressed as a winged mammal, it takes itself so darn seriously. The movie would definitely have benefited from a jolt of loopy outlandishness akin to Burton's undeniably quirky vision. And--despite the reigning notion that the previous films overdid the villains--a crazier, more charismatic bad guy would have done wonders to liven up the stately proceedings. There's a reason the audience burst into wild applause in the screening I saw at a third-act allusion to one of Batman's more famous adversaries. Let's hope for a little more inspired lunacy in the sequel. Hollywood
I may be bleeding, but I don't care
See where I'm leading, see I'm almost there
These days lost their meaning, but I don't care
But still we're all breathing, so cry if you dare
With the world before me to break my fall
And this wind behind me warm
The street lights embrace me, see I close my eyes
They're building wraps around me

Everyone's sleeping, but I don't care
Cause I can see reason, flowing through the air
Here comes some feeling, that no walls can hold
And clear and relieving us from the cold

With the world before me to break my fall
And this wind behind me warm
The street lights embrace me, see I close my eyes
They're building wraps around me

With the world before me to break my fall
And this wind behind me warm
The street lights embrace me, see I close my eyes
They're building wraps around me - Turin Brakes

quarta-feira, junho 08, 2005

Bombas armênias
Bernardo Araujo para O Globo
Nada como a interpretação de quem está analisando uma questão do lado de fora. A questão em questão é nada menos do que os Estados Unidos da América e sua cultura, sua paixão pela guerra, pelo imperialismo, a profunda superficialidade da Califórnia, etc. Quem interpreta tudo isso é um quarteto de rapazes esquisitos com nomes idem: Serj Tankian, Daron Malakian, Shavo Odadjian e John Dolmayan, o System of a Down, uma das bandas de rock pesado mais interessantes e bem-sucedidas do atual milênio. Descendentes de armênios — o que dá um sabor oriental a seu som — e ao mesmo tempo californianos da gema, eles lançaram recentemente seu quarto disco, “Mesmerize”, que foi direto ao primeiro lugar da parada americana.
Nas 11 músicas de “Mesmerize” — que ganharão uma continuação em “Hipnotize”, com lançamento marcado para novembro — o quarteto continua a revolução deflagrada em “Toxicity” (2001) e “Steal this album” (2002).
De fato, é difícil uma mensagem tão cristalina quanto a de “B.Y.O.B.”, primeiro sucesso de “Mesmerize”. Aos berros, Tankian (os vocais são divididos entre ele e o guitarrista Malakian) pergunta: “Por que os presidentes não vão para a guerra?/ Por que eles sempre mandam os pobres?”. No refrão, o instrumental ultrapesado e agressivo cai para uma levada dançante (que, no clipe, é acompanhada por uma troca no visual dos músicos, que ficam mauricinhos), e a dupla canta: “Todos vamos para festa/ Nos divertir a valer/ Dançando no deserto/ Explodindo o brilho do sol”. O nome da música, aliás, é um trocadilho com a expressão “Bring your own bottle”, ou “Traga sua própria garrafa”, trocando “bottle” por “bomb”.
Tom Leão: O mais louco nisso tudo é que o SOAD não faz exatamente metal. Não só. Apesar das guitarras e da bateria pesadas, o que tem por baixo das camadas são influências diversas, que passam também pelo progressivo, pelo rock clássico americano e pelo hardcore/punk, com alguns leves toques ciganos. Mas não interessa tanto o condutor, e sim o que vem dentro do pacote. A banda consegue fugir do óbvio, dos temas abstratos, da raiva por si só, e compõe um álbum extremamente ambicioso que não afunda em sua pretensão. E tudo acaba com a épica “Lost in Hollywood”. “All you bitches put your hands in the air and wave them like you just don't care” (“Todos vocês, suas vacas, botem suas mãos para o alto e as agitem como não se importassem”).
Marina W. e seu caderno de cinema
Blogueira quebra a mesmice da crítica de cinema e lança livro com suas opiniões sobre filmes, atores, diretores... O Caderno de Cinema de Marina W. é leitura obrigatória.

terça-feira, junho 07, 2005

Não estou conseguindo postar no Obsessions, meu blog oficial. Esse aqui, nunca me falha...
Estava pensando num sonho que tive nessa madrugada. Daqueles que parecem reais demais. Acordei me sentindo angustiada. Lembrei de minha amiga que se separou depois de 20 anos de casada. Eles não tinham filhos, muita gente acha que esse foi um dos motivos, porque ele queria e ela não. Não sei. Parecia que se davam muito bem, se conheciam desde a escola. Um belo dia , ele vai embora. Foi um baque para ela, que não tem emprego apesar de ser formada em arquitetura. Imagine o vazio que deve dar, tantos anos de convívio e de repente vai cada um para o seu lado.
Leio no Blowg: "Quando estava na casa de H., seu marido gritou 'Corre! Corre!'. Era pra ela ver um negócio na televisão. Casamento é assim, sempre um dos dois grita corre pro outro olhar alguma coisa que está passando na tevê e é rápido. Então me bateu uma nostalgia porque eu acho isso muito legal. Peguei Leopardo, do Visconti, na prateleira cheia de dvds." É isso mesmo, quantas vezes tivemos um momento assim? inúmeras! Falta aquela paixão do início, mas tudo passa. Às vezes, acho que não sei o que faria sem ele. Outras, quero distância. Esse sonho me assustou porque havia traição e abandono. Muitas vezes sonho que ele está me deixando. Não sei o que significa.
Leio no Cotidiano: "Comodismo é a palavra de ordem. Sete anos e eu continuo acumulando mofo.
Eu canso de estar na frente da tevê mas não me canso de assistir. Nessa roda a gente vai trocando um vício pelo outro até voltar aos anos setenta e fumar maconha ouvindo maluco beleza."
Acordei sentindo vontade de continuar dormindo. Sacudi a preguiça e levantei. Na academia, resolveram colocar música de são joão na aula de ginástica. Péssima idéia!

segunda-feira, junho 06, 2005

Superwoody
por Arnaldo Bloch
É fácil para Woody Allen saltar da tragédia para a comédia sem transição, ou, sem que percebamos, transformar o trágico no cômico, o cômico no trágico, o malfeito no sublime, o sublime em quinta categoria, a história esdrúxula em discurso shakespeariano, a arte das palavras em padrões exatos de lixo hollywoodiano... sem trocadilhos, por favor.
Por isso, cada vez que vou ver um novo filme de Woody Allen dirijo-me à sala de cinema como que movido por um dever. Um tributo que presto à inteligência, à fidelidade artística, à seriedade de princípios, e, mesmo, à própria grandeza humana, pois ser humano também é resistir a modelos absolutos.
Sinto-me como se fosse presenciar, na tela, algo raro, espécie de pensar e de dizer em franca extinção, da qual é preciso guardar os últimos registros, para a posteridade.
Lembro-me de uma crônica de Arthur Dapieve que descreve com precisão esse sentimento. O cronista citava Woody Allen como aqueles indivíduos que temos medo de perder. Dizia ter medo que Allen morresse, pois a partir deste dia o mundo e a civilização deixariam de ser os mesmos, teriam perdido uma porção considerável de sua essência.
Como o Dapieve, tenho medo que Woody Allen morra. Não é idolatria. Não enxergo nele um mito, não tremeria se diante dele estivesse. A dor da perda estaria mais relacionada com aquilo que ele pensa e expressa e, sobretudo, a maneira peculiar com que o faz. Pois hoje o pensamento do artista e a sua peculiaridade diluem-se com freqüência em formatos que fazem com que uma obra se pareça com todas as outras, feitas para um público pouco ansioso por novidade, por confronto de idéias, por reflexão, pelo rir que significa também saber, pelo choro que não alivia a angústia. Do outro lado, temos a experimentação e as vanguardas, umas autoproclamadas, outras ainda não sabidas, restritas a um público extremamente reduzido.
Allen é dos últimos cineastas que ainda sabem comunicar-se com o público concentrando em centímetro de película alto grau de reflexão e estilo. Ouvi-lo, mesmo quando não atua (caso de “Melinda e Melinda”), é privilégio que não se deve desperdiçar.

sexta-feira, junho 03, 2005


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O enigma de James Dean
Por Ricardo Calil
02.06.2005 | "Quando se lembra James Dean, uma questão sempre vem à tona: ele se tornou um mito porque era um grande ator ou por uma combinação de estilo de vida e morte precoce?
As respostas sempre foram divididas. Humphrey Bogart, por exemplo, declarou: “Foi bom que ele morreu jovem. Se continuasse vivo, não seria capaz de justificar a publicidade em torno de seu nome”. O cineasta Elia Kazan parecia concordar com Bogart, ao dizer que Dean não conseguiria manter a qualidade de seu trabalho por ser um ator instintivo, ao contrário de Marlon Brando, mais técnico.
Possivelmente a verdade está no meio do caminho. Mas a morte de Dean com apenas 24 anos, em um acidente de carro no ano de 1955, impediu uma resposta defintiva. Por causa dela, Dean nunca precisou passar pela prova do filme ruim – o que o transforma em um caso raro entre atores de qualquer parte do mundo. Com apenas três papéis de destaque, ele participou de uma obra-prima (“Vidas Amargas”, de Elia Kazan), um marco cultural (“Juventude Transviada”, de Nicholas Ray) e um filme decente (“Assim Caminha a Humanidade”, de George Stevens).
Esses três filmes compõem a bela “Coleção James Dean”, que a Warner lança agora em seis DVDs. “Assim Caminha a Humanidade” vem em edição especial de três discos, “Juventude Tranviada” em dois, e “Vidas Amargas” (inédito em DVD) em um. Cada filme é acompanhado por um farto material de extras, que incluem documentários sobre o ator, cenas de bastidores, testes para os papéis e seqüências cortadas, entre outros destaques.
Em “Vidas Amargas” (1955), parábola sobre a história de Caim e Abel baseada em livro de John Steinbeck, Dean interpreta o inquieto Cal Trask, que disputa com seu exemplar irmão Aron (Richard Davalos) o carinho e a atenção do pai, mas sempre fracassa. É o primeiro personagem de destaque de Dean e também sua melhor interpretação, o que pode ser em parte creditado ao genial Elia Kazan, talvez o melhor diretor de atores da história. No papel de um Caim do século 20, já ficam claros alguns dos traços de seu estilo: a aparência frágil, o espírito indômito, o discurso hesitante.
Em “Assim Caminha a Humanidade” (1956), seu último filme, o estilo de Dean já se aproxima perigosamente do maneirismo, em que a repetição de certos tiques físicos não dá conta do universo interior do personagem. No papel de Jett Rink, ele luta contra Bick (Rock Hudson) pelo amor de Leslie (Elizabeth Taylor), ao mesmo tempo que tenta encontrar petróleo no Texas.
“Assim Caminha a Humanidade” traz indícios preocupantes do que poderia ser a carreira de Dean nas mãos de diretores menos brilhantes. Mas ele morreria apenas duas semanas após o final das filmagens, antes de dar uma resposta para seu enigma. Ainda que não seja de suas interpretações mais inspiradas, ela foi indicada ao Oscar postumamente. Aí o mito já havia se tornado maior que o ator."
Difícil saber. Para mim, o melhor filme dele foi "Vidas Amargas". Ainda lembro a primeira vez que vi, numa dessas sessôes corujas da vida, papai ainda era vivo e assistimos juntos. Tive que disfarçar o choro...
E não importa se James Dean era gay ou não.
Watch With Kristin
Lost: If you're one of the fans who thinks the Lost finale didn't give much bang with its season-ending blasts, try this on for size: A Website Easter egg planted by the producers that gives you a glimpse of what they're planning for the second season.
Here's what you do:
1. Go to the "official" Oceanic Airlines Website.
2. At the bottom, where it says "Travellers," enter Hurley's unlucky lottery numbers: 4, 8, 15, 16, 23 and 42.
3. Click the "Find" button.
4. Click on the row numbers on the flight's seating chart that match Hurley's numbers.
5. Don't blink.
6. Change shorts.
7. Figure out what the hell it all means.
8. Email me.
9. Keep digging. The site has much more to spill.
Grave Ending:
Everything. Everyone. Everywhere. Ends. So says Alan Ball, and the end of his series Six Feet Under is no exception. After five seasons with the Fisher family, we fans must accept that the end is near, but before we start the grieving process, we have one last glorious season to look forward to, premiering this Monday. Hurrah!

quarta-feira, junho 01, 2005

Blog é coisa séria
(Reportagem da revista VEJA)
Os diários virtuais não são só para adolescentes. Sua influência já vai da política aos negócios.
Surgidos há pouco mais de cinco anos, e com a velocidade típica das invenções do mundo virtual, os blogs – ou diários da internet – estão deixando a adolescência para entrar na idade adulta. Em sua primeira fase, eles eram usados quase que exclusivamente pela garotada que queria expor sua intimidade e se relacionar com os colegas na rede. Agora, essa ferramenta começa a ser utilizada de maneira séria em campos como a política e os negócios. Por meio de blogs, cidadãos até então anônimos – de jovens militantes a jornalistas – tiveram participação marcante nas últimas eleições americanas. Eles apoiaram candidaturas, trouxeram à luz notícias quentes e fiscalizaram a cobertura da mídia. Os blogueiros, como são chamados os que se devotam à atividade, conquistaram prestígio – um emblema disso é que foram tratados com a mesma deferência da grande imprensa nas convenções partidárias. Os blogs revelaram-se uma forma de expressão extraordinária também em outras situações. Foi por meio deles que o mundo teve contato com as primeiras cenas da tragédia do tsunami na Ásia, no ano passado. Em países como a China e o Irã, eles são hoje uma arma dos dissidentes políticos. E as empresas já apostam que seu uso será cada vez mais estratégico.
Hoje, estima-se que haja mais de 30 milhões desses diários virtuais no mundo inteiro, e deve-se atingir a marca de 53 milhões até o fim do ano, de acordo com a consultoria americana Perseus Development Corp. Nos Estados Unidos, seu universo de leitores cresceu 58% entre 2003 e 2004 – nada menos do que 32 milhões de americanos navegam por blogs. Essa efervescência também já chegou ao Brasil. No mês de abril, segundo o Ibope/NetRatings, mais de 7.milhões de brasileiros visitaram blogs ou fotoblogs – sua versão específica para fotografias. Isso equivale a 60% dos internautas do país. "No ano passado, os blogs foram a área que mais cresceu na internet nacional", diz Alexandre Magalhães, do Ibope/NetRatings.
Os blogs levam às últimas conseqüências dois princípios da internet. Um deles é a interatividade. Cada texto postado num blog vem acompanhado de uma janela para que os leitores façam comentários, o que torna essas páginas espaços de debate por excelência. O outro é a formação de comunidades que vão se ampliando e se sobrepondo. Os blogs são interligados uns aos outros por meio de links – os atalhos que permitem ao usuário saltar entre as páginas da internet. Assim, um texto publicado num blog que isoladamente não atrai grande número de leitores pode de repente se espalhar de maneira exponencial. Quanto mais um blog é recomendado pelos similares, mais ganha status. Da mesma forma, o blogueiro que participa das discussões em páginas de terceiros acaba, por tabela, divulgando a sua própria. Atualmente, o campeão em popularidade nos Estados Unidos é um blog chamado Boing Boing, que fala sobre cultura pop e tecnologia. Na semana passada, havia 22.532 atalhos para seu endereço em outras páginas da internet.
Por sua natureza, um blog já nasce com a necessidade de se interligar ao máximo a seus congêneres. Se há um traço comum entre os blogueiros que se destacam é a ânsia em falar e ser ouvido. Em seu novo perfil, os blogueiros são gente com prazer e vocação para se engajar num jogo de opinião e comentário. "Blog é, antes de tudo, atitude", resume o executivo Marcello Póvoa, especialista no mercado de internet. A elite dos blogs é formada por pessoas que trabalham nas margens da grande mídia – muitas vezes, jornalistas freelancers. Há os "linkers" – aqueles que usam seu blog para repercutir as informações que circulam na imprensa, fornecendo atalhos para elas – e os "thinkers" – os que produzem o próprio conteúdo.
Essa figura do blogueiro que não se furta a uma boa discussão e faz de tudo para ser lido já desponta no Brasil. O paulista Alexandre Soares Silva é um exemplo. Ele é tradutor e aspirante a escritor, mas encontrou sua forma de atingir as pessoas por meio dessas páginas na internet. Soares Silva é expoente do Wunderblogs, comunidade que reúne blogueiros de vários estados do país. Seus textos sarcásticos garantem a ele um bom índice de visitação. Seu blog tem entre 700 e 800 acessos por dia – tanto quanto seus dois romances, somados, venderam até hoje. "Tem gente que fica indignada porque critico as cotas raciais nas universidades e falo mal da literatura brasileira. Mas eu adoro provocar", diz. • NOME: Alexandre Soares Silva
• ENDEREÇO: soaressilva.wunderblogs.com
• CRIADOR: o próprio
• O QUE É: blog cultural
• O QUE FEZ: tradutor e escritor sem projeção, conquistou seu lugar ao sol com uma página em que fala de literatura e outros temas. Num único dia, tem cerca de 800 visitas – tanto quanto seus dois romances, somados, venderam até hoje.

domingo, maio 22, 2005

This is Such a Pity
(Weezer)
How is your heart little darling?
I didn't mean to get so mad.
Let me just hold you closely.
How did things get so bad?
I know how to pick on you.
You pushed me over the edge.
We caused so much agony.
We can't seem to move ahead.

This is such a pity.
We should give all our love to each other.
Not this hate that destroys us.
This is such a pity.
(This is a pity)

What kind of future will we have?
Will we we ever find peace?
Everybody thinks we're crazy.
They're about to call the police.
I don't wanna be a chump.
You think I'm a fascist pig.
Right now everything is black.
I don't think we'll ever get it.

segunda-feira, maio 16, 2005

JOGO DO CURRÍCULO

Sou míope e não saio de casa sem minhas lentes de contato.
Detesto quem dirige com o braço para fora do carro.
Nunca quebrei nenhum osso do corpo.
Já entrevistei o Stênio Garcia.
Já andei de cavalo.
Aprendi a nadar sozinha.
Já furtei coisas de lojas.
Nunca casei. Mas moro com aquele que foi meu primeiro namorado. Estamos juntos há mais de 8 anos e temos uma linda filha.
Fui roubada nuam estação de trem em Frankfurt.
Fui num show do Nirvana, no Rio de Janeiro.
Já namorei por carta.
Já passei o thanksgiving nos Estados Unidos com americanos.
Já joguei moedas na Fonte de Trevi, Roma.
Passei no meu primeiro vestibular para Jornalismo e depois fiz vestibular para Letras sem estudar nada, passei e nunca me matriculei.
O cineasta Peter Greenaway passou pertinho de mim e depois assisti uma palestra dele no MAM.
Já viajei de trem de Chicago até Seattle.
Já fui à Roma, Paris, Londres, Berlin, Estocolmo, Oslo, Helsinki, Copenhagen, Mallorca, Berna...
Viajei de Natal para o Rio só para assistir o show do New Order.
Já pedi carona para estranhos quando estava na faculdade.
Já conheci o Grand Canyon.
Nunca esquiei ou fiz boneco de neve.
Nunca fiz tatuagem. Nem pretendo fazer.
Nunca pulei de pára-quedas. Nem pretendo.
Já cochilei no volante do carro.
Já fui na Leboy.
Já fumei maconha.
Já me decepcionei com as pessoas que mais amava. (e aposto que elas comigo)
Já fiquei com um cara uma noite e depois nunca mais soube dele.
Já me apaixonei por vários atores.
Já viajei no mesmo avião que o Eduardo Dusek.
Já pensei em fazer teatro mas além de ser tímida, não consigo sair da minha pele.
Já fui para no hospital depois de misturar whiskey com calmante. (Never More!!)
My dreams are just like pages ripped from a book in which I have to develop the story.
Ontem, sonhei mas depois acho que acordei e passei a trabalhar a história na minha mente. De manhã havia apenas uma leve lembrança. Coisa de escritor frustrado.
Surviving the days, merely existing. I've spent my whole life trying to find out who I am and now I question myself: what have I done to my life? Because it doesn't make sense to me.

sábado, maio 14, 2005

PINTOU A PALMA DE OURO?
Enviado por Jaime Biaggio - 14/5/2005
Acho até que ainda não. Mas pintou o primeiro grande filme de Cannes 2005: Caché, do austríaco Michael Haneke (Funny Games - Violência Gratuita, Código Desconhecido, A Professora de Piano, pra situar quem possa não conhecer).
Haneke sempre faz filmes barra-pesada, lúgubres (ultimamente pegou uma mania de iluminar as cenas de menos, tornando os personagens sombras engolidas pelo ambiente e pelas suas culpas). Ele começa no registro habitual, mexendo com signos de instabilidade social e paranóia urbana, como em Funny Games e Le Temps du Loup, exibido aqui em Cannes há dois anos e nunca lançado no Brasil. Essa é a trama-base (um intelectual famoso e bem-sucedido recebe na porta de casa vídeos inquietantes - sua casa, filmada da rua em frente; a casa de sua mãe, filmada de um carro que passa ali por perto; tudo sem qualquer explicação, mas sugerindo que quem os está enviando o conhece não é de hoje).O intelectual é Daniel Auteuil. A mulher dele é Juliette Binoche.
Só que o caminho que o filme toma a partir daí tem algo de novo. Não só pelos rumos abstratos que toma em termos de resolução da narrativa, mas por algo que ouso - é, ouso, já que Haneke é visto por muitos como um diretor que adora pintar o ser humano como um bicho abominável - chamar de um certo carinho, uma pregação em nome da conciliação de diferenças, estabelecida na surpreendente cena final. Não dá pra ser mais claro que isso, sorry. Assim como em Lemming, assim como em Match Point, contar demais, no caso de Caché, estraga. Ainda que, nesse caso, eu tema que o filme não seja comprado para o Brasil.
Mas, pra resumir, não sei se o Haneke detesta o ser humano, não. Acho que ele, isso sim, tem a exata noção do quanto esse bicho escroto pisa na bola com seus semelhantes. Sei bem o que é isso. Não gosto muito de gente (assim, no genérico). Desconfio de gente. Tenho mesmo um certo receio. Ok, às vezes desprezo um pouco mesmo. Mas sempre me pego, em dados momentos, percebendo em mim uma tolerância inesperada, uma vontade de pensar "tá bom, tá bom, vamos dar uma outra chance pra esse estrupício do ser humano". Capacidade de perdoar, resumindo. E senti isso nele dessa vez. Quase um pedido de "pega leve", de um bicho homem para os demais.
Match Point, o novo Woody Allen, é uma delícia e uma revelação. Que ele já soube fugir ocasionalmente ao molde habitual dos seus filmes, todos nós já sabíamos. A dúvida era se ainda sabia. Francamente, Woody Allen andou morto da virada do século pra cá. Começou a renascer com Igual a Tudo na Vida, que me deixou curioso pelo filme seguinte, Melinda & Melinda, que não consegui ver ainda (estréia por aí na próxima semana, acho). Esse é uma surpresa muito bem-vinda.

quinta-feira, maio 12, 2005

11/05/2005 - O Globo on line
'A vingança dos Sith' encerra a saga de 'Guerra nas estrelas'
Jamari França
O sabre de luz dos Jedis vai se apagar ao final de "Episódio três - A vingança dos Sith'' e assim ficará por 19 anos até o começo do quarto episódio, "A nova esperança", conhecido por todos desde 1977 ( saiba tudo sobre os filmes anteriores ). Terminar uma história pelo meio e, ainda assim, faturar milhões é mais uma prova do gênio de George Lucas. No último final de semana, ele fez uma sessão no Rancho Skywalker, na Califórnia ( veja as imagens do filme ). Dia 12 haverá estréias em várias cidades americanas, dia 15, a première oficial no Festival de Cannes e, dia 19, entra finalmente em cartaz o fecho de uma série que já faturou US$ 3,5 bilhões e que, em algum momento ainda este ano, poderá ser vista de ponta a ponta no sofá da sala em uma maratona de 13 horas.
Jornalistas americanos contemplados com a sessão exclusiva no rancho de Lucas escreveram maravilhas sobre o episódio três, com a ressalva de ser o mais violento, incluindo cenas como o massacre de crianças na academia dos jedis por Anakin Skywalker (Hayden Christensen), alinhado ao lado sombrio da força pelos artifícios malévolos do chanceler Palpatine (Ian McDiarmid). Quem acompanha a saga já sabe o que vai acontecer neste terceiro episódio, só falta saber como. A senadora Padmé Amídala (Natalie Portman) não sobrevive ao nascimento dos gêmeos Luke e Leia. O jedi Obi Wan Kenobi (Ewan McGregor) corre perigos tremendos capazes de lhe custar a vida, mas escapa ileso para conduzir Luke na sua saga para redimir o pai do mal e levá-lo a cumprir a profecia de restaurar o equilíbrio da força.
Após o extermínio bem sucedido dos jedis, sobram apenas Obi Wan e o mestre Yoda. O primeiro se exila no planeta Tatooine sob o nome de Ben Kenobi para ficar como guardião de Luke, adotado pelo casal de fazendeiros Owen (Joel Edgerton) e Beru Lars (Bonnie Piesse). Yoda será derrotado numa batalha no planeta Kashyyyk, lar do gigante Chewbacca (Peter Mayhew), personagem da primeira trilogia, e se exilará no inóspito planeta Dagoba. Leia será entregue ao vice-rei da casa real de Organa, Bail Organa (Jimmy Smits), e levada para o planeta Alderaan, onde crescerá como princesa e, mais tarde, parlamentar no Senado imperial, além de líder rebelde.

Não quer saber o final do filme? Então, pare aqui
A guerra dos clones, iniciada no episódio anterior, está no 13º ano com derrotas das forças da república diante dos separatistas em vários sistemas sob a liderança sanguinária do Conde Dooku (Christopher Lee) e de um novo personagem, o general Grievous, um misto de ser orgânico e dróide responsável pelo massacre de milhões. Ele tem especial prazer em matar jedis, com a ajuda dos dróides Magnaguard, especialmente equipados com electrostaffs , bastões de energia capazes de rebater os golpes dos sabres de luz dos jedis e de atacarem com a velocidade da luz.
Num golpe ousado, Grievous lidera um comando ao planeta Coruscant, sede do governo da república, e seqüestra o chanceler Palpatine. A dupla Obi Wan e Anakin, responsáveis por várias façanhas heróicas na guerra, parte em dois caças estelares para resgatar o chanceler, missão bem sucedida em combates espetaculares e num duelo mortal com o Conde Dooku. Super confiante, Dooku consegue botar Obi Wan fora de combate, mas acaba morto por Skywalker, instigado por Palpatine que, na verdade, é o pérfido Darth Sidious, empenhado em destruir a República que governa. ''O ódio é sua arma. Ataque agora. Mate-o'', grita Palpatine/Sidious para Anakin. Dooku percebe que seu líder lhe preparou uma armadilha: ''a traição é da natureza dos sith,'' é seu último pensamento.
De volta ao comando do Senado, um agradecido Palpatine começa a longa doutrinação para transformar Anakin em seu braço direito no futuro império, retratado nos episódios "A nova esperança" (1977), "O império contra-ataca" (1980) e "O retorno do jedi" (1983).
Apesar de identificado como o jedi da profecia, Anakin tem defeitos que o impedem de ser sagrado mestre, como a ira, o amor por Padmé, o orgulho e a auto-confiança de ser o mais poderoso dos jedis. Como seus mestres dizem, tudo isso leva ao lado sombrio e é para lá que ele se encaminha gradualmente, movido especialmente por um sonho premonitório de que Padmé não sobreviveria ao parto.
Ele sonda Yoda a respeito, sem revelar sua união com a senadora, já que um jedi não pode se casar, mas ouve dele apenas a aceitação da morte como parte da vida. Além de solidário, Palpatine reforça as tendências anti-jedis de Anakin, que resiste às investidas até que o chanceler dá o golpe de misericórdia falando na existência de um poderoso sith, Darth Plagueis, que sabia como criar e manter a vida e que tinha sido seu mestre até ele matá-lo. Neste momento, Anakin saca seu sabre e acusa Palpatine de ser Darth Sidious. "Então devo matá-lo. Vou matá-lo," diz Anakin. Palpatine rebate: "Se eu morrer, meu conhecimento morre comigo. A menos que eu tenha a oportunidade de ensinar a meu aprendiz."
Abalado, Skywalker acaba no templo Jedi em agonia intensa pelo choque entre seus dois lados. Ele acaba dizendo ao mestre Mace Windu (Samuel L. Jackson) que Palpatine é Sidious, daí os jedis partem para cima do Chanceler. Anakin fica para trás, mas acaba indo ao gabinete de Palpatine, encontrando-o em luta com Mace. O chanceler finge ser mais fraco que seu oponente, Anakin pede que ele seja poupado, Mace diz que vai matá-lo. "Preciso dele vivo! Preciso dele para salvar Padmé," grita Anakin. E mata Mace.
Obi Wan mata Grievous num combate mortal no planeta Utapau. O confronto final entre Obi Wan e o agora renegado Anakin acontece no planeta vulcânico Mustafar, para onde Obi Wan vai com Padmé. Anakin acusa a senadora de traí-lo e a fere seriamente. Obi Wan o enfrenta e consegue derrubá-lo num poço de lava onde o corpo de Anakin pega fogo. Sidious o resgata e o coloca dentro de uma cápsula médica: "Viva, lorde Vader. Viva, meu aprendiz," diz Sidious. De lá, ele será levado para Coruscant, tratado e recebe o traje e o capacete negro, que todos conhecem, equipados para garantir sua sobrevivência. Mortalmente ferida, Padmé dá à luz gêmeos. Suas últimas palavras serão ouvidas novamente da boca de seu filho, Luke, no episódio final: "Obi Wan, o bem ainda existe nele. Eu sei que ainda existe..."

quinta-feira, maio 05, 2005

TV on the Radio - Staring at the sun
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Cross the street from your storefront cemetery
Hear me hailing from inside and realize

I am the conscience clear
In pain or ecstasy
And we were all weaned my dear
Upon the same fatigue

(You're staring at the sun)
Oh my own voice
Cannot save me now
It's just
(standing in the sea)
One more breath
And then
I go down

Your mouth is open wide
The lover is inside
And all the tumults done
Collided with the sign
You're staring at the sun
You're standing in the sea
Your body's over me

Note the trees because
The dirt is temporary
More to mine than fact face
Name and monetary

Beat the skins and let the
Loose lips kiss you clean
Quietly pour out like light
Like light, like answering the sun

You're staring at the sun
You're standing in the sea
Your mouth is open wide
You're trying hard to breathe
The water's at your neck
Your body's over me

Be what you will
And then throw down your life
Oh it's a damned fine game
And we can play all night

You're staring at the sun
You're standing in the sea...

My japanese name is 中村 Nakamura (center of the village) 美晴 Miharu (beautiful clear sky).
Created with
japanese name generator

sábado, abril 30, 2005

Literatura de paixão, sombras e luz
Marcelo Moutinho
Caio 3D — O essencial da década de 1970, de Caio Fernando Abreu.
Editora Agir, 360 páginas. R$ 49,90
receber a folha com o resultado do exame a que se submetera, e onde em letras geladas constava a palavra “positivo”, Caio Fernando Abreu talvez não imaginasse que ali estava, mais do que o prenúncio de morte, o início de uma completa reviravolta em seu modo de ver o mundo — e de escrevê-lo. Diante da perspectiva do confronto iminente com o fim, o sol negro que até então semeara melancolia em sua obra se tornaria claridade pura, intensa, regeneradora. Tal mudança, flagrante nas crônicas a que se dedicou nos últimos anos e nas cartas remetidas a amigos e parentes, transpareceria de forma ainda mais concreta no olhar que passou a legar aos escritos passados, nos quais chegou a promover alterações. A mais visível delas, decerto, a tênue (mas significativa) adição de um hífen no título de “Inventário do irremediável”, seu primeiro livro de contos. Na revisão feita 25 anos depois do lançamento original, de 1970, Caio transformou a fatalidade daquele “irremediável” num “ir-remediável” — que pode ser reparado. Esta segunda grafia foi mantida pela Editora Agir na coletânea “Caio 3D — O essencial da década de 1970”, que republica o trabalho de estréia do autor ao lado de contos dispersos e inéditos, poemas, correspondências e depoimentos, numa seleta que se centra sobre sua produção intelectual entre 1970 e 1980. O livro é o ponto de partida de uma série que contará ainda com volumes sobre os anos 80 e 90. Além disso, marca o início do relançamento, pela própria Agir, da obra completa de Caio, numa bem-vinda iniciativa que possibilitará ao leitor acompanhar, livro a livro, o desenrolar da carreira daquele a quem Lygia Fagundes Telles chamava de “escritor da paixão”. De títulos célebres, como “Onde andará Dulce Veiga?” e “Morangos mofados”, a trabalhos menos conhecidos, casos de “Limite branco” e do compêndio de crônicas “Pequenas epifanias”. Livro também investiga a solidão O primeiro volume da coleção “Caio 3D” evidencia a influência ainda excessiva de Clarice Lispector, mas já contempla questões que se firmariam como grandes obsessões do autor. Estão presentes o flerte com o fantástico, que alcançaria graus máximos em contos como “Mergulho I”, de “Pedras de Calcutá”, e as recorrentes referências à astrologia, que seriam levadas ao paroxismo em “Triângulo das águas”, cujas três novelas relacionam-se com os arquétipos dos signos de peixes, escorpião e câncer. O livro investiga também a solidão, que na literatura de Caio aparece menos como uma condição permanente, e mais como uma espécie de hiato entre dois amores — o que se foi e o que virá. Tal traço é explicitado, por exemplo, no conto “Itinerário”: “Por entre essa infinidade de formas (...); por entre esse amontoado de lembranças feitas de imagens incompletas como retratos rasgados; por entre essa idéia à qual faltam braços, pernas, cabeças (...); eu busco. Sem encontrar”. Há ainda uma ânsia quase desesperada por paixão, “com a consciência dolorosa de que ela importa mais do que seu objeto”, como anota Maria Adelaide Amaral no prefácio, em observação que pode ser sintetizada numa frase do belo “Anotações de um amor urbano”. O narrador, abalado pelo rompimento, assevera: “Amanhã não desisto: e te procuro em outro corpo, juro que um dia te encontro.”
Poema 'Alento'
“QUANDO MAIS NADA HOUVER, eu me erguerei cantando, saudando a vida com meu corpo de cavalo jovem. E numa louca corrida entregarei meu ser ao ser do Tempo e a minha voz à doce voz do vento. Despojado do que já não há solto no vazio do que ainda não veio, minha boca cantará cantos de alívio pelo que se foi, cantos de espera pelo que há de vir.”
Trecho do conto 'Aniversário':
“HAVIA ESPERADO DURANTE TODO O DIA. O QUÊ? nem ele próprio saberia dizer. Acordara já com a fatalidade da espera colocando um brilho triste nos olhos. E o projetara sobre a mãe, primeira pessoa a abraçá-lo, que recuou um pouco ofendida. O mesmo recuo sentira estender-se às outras pessoas, à medida em que o abraçavam e felicitavam. Examinara-se ansioso ao espelho, tentando descobrir se o ano a mais também lhe colocara uma ferocidade a mais ou um novo espanto no rosto. Mas não. Nada. Lá estavam as mesmas feições um pouco vagas, o ar exato de quem espera alguma coisa. E contudo, nesse dia, ele esperava mesmo. A espera abstrata cedera lugar à outra — concreta. Ajeitara o rosto da melhor maneira possível, como se o sentimento novo (e no entanto tão antigo) fosse algo a esconder. Porque ele não queria surpreender nem chocar nem ferir. Pertencia àquela estranha espécie de pessoas que flutuam pelo mundo, sutis, evitando esbarrar em qualquer coisa. Não se sabia se procedia assim por simples delicadeza ou para defender-se. O fato é que era assim. E, portanto, desagradava-lhe aquele jeito de espera gritando alto no corpo inteiro.”
Um clima soturno paira sobre “Caio 3D”, em especial sobre seus personagens, sempre às voltas com o entrave do não-pertencimento, da inadequação. “Eu tinha qualquer coisa como andar de costas, quando todos andam de frente. Qualquer coisa como gritar, quando todos calam. Qualquer coisa que ofendia os outros, que não era a mesma deles e fazia com que me olhassem vermelhos, os dentes rasgando as coisas, eu doía neles como se fosse ácido, espinho, caco de vidro”, confessa, lamentoso, o protagonista de “O mar mais longe que eu vejo”.
Frente a frente com a morte, que o levaria em 1996, aos 48 anos, decidiu plantar rosas e viver cada dia “arrancando das coisas, com as unhas, uma modesta alegria”. Talvez já tivesse então desvendado, através da literatura mas sobretudo da vida, o segredo da árvore mágica que, apesar de fincada num terreno taciturno e sombrio, encanta o protagonista do conto “Caixinha de música”: extrair do emaranhado de dor, angústia fria e solidão escura a beleza a ser lançada para fora.