quarta-feira, janeiro 29, 2014

Henry, Acabaste de sair. Disse ao Hugh que tinha de acrescentar algo ao meu trabalho. Tive de voltar para cima, para o meu quarto, outra vez, e ficar só. Estava tão cheia de ti que tinha medo de mostrar a minha cara. Henry, nenhuma partida tua me deixou tão abalada. Não sei o que foi hoje que me atraiu a ti, que me fez frenética por estar perto de ti, para dormir contigo, para te abraçar... Uma ternura louca e terrível... Um desejo de cuidar de ti... Foi uma grande dor para mim teres ido embora. Quando falas da maneira como falaste das Mädchen [in Uniform] , quando és atencioso e comovente, perco a cabeça. Para ficar contigo por uma noite eu daria toda a minha vida, sacrificaria cem pessoas, deitaria fogo a Louveciennes, seria capaz de tudo. Isto não é para te preocupar, Henry, é só porque não consigo impedir-me de o dizer, que estou a transbordar, desesperadamente enamorada por ti como nunca estive por alguém. Mesmo que fosses embora amanhã de manhã, a ideia de estares a dormir na mesma casa teria sido um doce alívio do tormento que suporto esta noite, o tormento de ser cortada ao meio quando fechaste o portão atrás de ti. Henry, Henry, Henry, eu amo-te, amo-te, amo-te. Tive ciúmes do Jean Renaud, que te tem todos estes dias, que dorme em Clichy. Esta noite tudo dói, não só a separação, mas esta terrível fome de corpo e mente por ti que todos os dias tu aumentas, agitando mais e mais. Não sei o que estou a escrever. Sente-me a abraçar-te como nunca te abracei antes, mais profundamente, mais tristemente, mais desesperadamente, mais apaixonadamente. Ajoelho-me perante ti, dou-me a ti e não é suficiente, não é suficiente. Adoro-te. O teu corpo, a tua face, a tua voz, o teu ser humano, oh, Henry, não posso ir agora e dormir nos braços do Hugh — não posso. Quero fugir só para ficar sozinha com os meus sentimentos por ti. Anais Nin, in "Carta a Henry Miller (1932)"

domingo, maio 26, 2013

And I must prove I can provide for myself. Everybody has doubts including me. Can I get a job who pays for my needs?

sábado, maio 25, 2013

Luz Antiga Nando Reis Eu só queria que você cuidasse Um pouco mais de mim Como eu cuido de você Cuidar é simplesmente olhar "Prum" mundo que você não vê Pra medir o amor não existe cálculo 1 1 pode não ser 2 Sentir a sua liberdade Desejo que não é sonho, é mera ilusão Se não sabe Se afaste de mim Se ainda cabe Me abrace, enfim Só ligue se tiver vontade Só venha se quiser me ver Mentir é pura vaidade De quem precisa se esconder Será que eu vejo apenas o que você não vê? Eu não entendo como você não pode perceber Que eu não sei mais, Eu não sei mais, Eu não sei mais o que fazer! O sangue é o rio que irriga a carne A alma é a margem e o contorno É luz antiga ao fim da tarde De uma saudade sem socorro Se não sabe Se afaste de mim Mas antes que seja tarde Nos salve do fim.
Porque hoje é sábado. Hoje é sábado, amanhã é domingo Amanhã não gosta de ver ninguém bem Hoje é que é o dia do presente O dia é sábado. Impossível fugir a essa dura realidade Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas. Há uma impassível lua cheia Porque hoje é sábado. Há damas de todas as classes Porque hoje é sábado. Umas difíceis, outras fáceis Porque hoje é sábado. Há um beber e um dar sem conta Porque hoje é sábado.
Estou cansada de incertezas. Preciso de mais certezas em minha vida. do livro "a Vida Gritando aos Cantos " Caio F.
"Poderíamos casar. Teríamos um apartamento, quem sabe uma casa com jardim e um cão com pelo brilhante. Improvável, você disse uma vez que não gostaria de morar em casa. Tomaríamos café as cinco da tarde. Você reclamaria do fato de eu nunca conseguir chegar na hora certa e eu de que você tem que ter horário para tudo. E estaríamos sempre lembrando de alguma detalhe de quando nos vimos pela primeira vez. Discordaríamos quanto a cor das cortinas. Não arrumaríamos a cama diariamente, beberíamos juntos em algum bar no final de semana. A geladeira seria repleta de frutas e verduras, mas com espaço para o vinho e a cerveja. Você me incentivaria a comer mais saudável. Adiaríamos o despertador umas trinta e duas vezes só para ficarmos horas na cama enrolando e falando qualquer besteira. você me ensinaria alguma coisa sobre futebol, e me convenceria a assistir aquele filme no cinema. Sentaríamos na sala de pijama e pantufas, você iria direto para o caderno de esportes no jornal e eu comentaria alguma notícia qualquer. Iríamos andar na praia ao entardecer só para ver o sol se pôr e a lua sair. Finalmente iríamos juntos à Provence, Paris, Veneza, Londres. Eu finalmente escreveria meu livro. Sairíamos pra jantar em algum dia de chuva e não nos importaríamos em chegarmos encharcados. Nos beijaríamos no meio de alguma frase. Você pegaria no sono com a mão no meu cabelo e eu, escutando sua respiração. Eu riria sem motivo e você perguntaria porque, eu não responderia. Saberíamos. Poderíamos casar…"

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Remar

“Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar.”
— Caio Fernando Abreu

domingo, outubro 30, 2011

outra vez

Dentro de mim guardo sempre teu rosto e sei que por escolha ou fatalidade, não importa, estamos tão enredados que seria impossível recuar para não ir até o fim e o fundo disso que nunca vivi antes e talvez tenha inventado apenas para me distrair nesses dias onde aparentemente nada acontece e tenha inventado quem sabe em ti um brinquedo semelhante ao meu para que não passem tão desertas as manhãs e as tardes buscando motivos para os sustos e as insônias e as inúteis esperas ardentes e loucas invenções noturnas.

Eu quero pouco e quero mais

"Dizem que a gente tem o que precisa. Não o que a gente quer. Tudo bem. Eu não preciso de muito. Eu não quero muito. Eu quero mais. Mais paz. Mais saúde. Mais dinheiro. Mais poesia. Mais verdade. Mais harmonia. Mais noites bem dormidas. Mais noites em claro. Mais eu. Mais você. Mais sorrisos, beijos e aquela rima grudada na boca. Eu quero nós. Mais nós. Grudados. Enrolados. Amarrados. Jogados no tapete da sala. Nós que não atam nem desatam. Eu quero pouco e quero mais. Quero você. Quero eu. Quero domingos de manhã. Quero cama desarrumada, lençol, café e travesseiro. Quero seu beijo. Quero seu cheiro. Quero aquele olhar que não cansa, o desejo que escorre pela boca e o minuto no segundo seguinte: nada é muito quando é demais."´Atribuído à Caio Fernando Abreu

segunda-feira, outubro 17, 2011

Caio Fernando Abreu

Porque o que ele escrevia, ressoa em mim...
Tenho trabalhado tanto, mas sempre penso em vc.
Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança.
Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você.
Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro.
Quis tanto dar, tanto receber.
Quis precisar, sem exigências.
E sem solicitações, aceitar o que me era dado.
Sem ir além, compreende?
Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana.
Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê.
Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Tinha terminado, então.
“II y a toujours quelque chose d’ambient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta).
Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas.
Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros.
De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento.
Ser novo.
Mesmo que a gente se perca, não importa.
Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.
Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis.. . .
E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.

domingo, outubro 16, 2011

If I was yours but I'm not

Final de semana chuvoso e eu sem muita disposição, acometida de uma amigdalite. O que parecia ser uma gripe, depois uma sinusite e em seguida, um problema de garganta. O corpo é frágil. Sinto uma incômoda dor nas pernas, sem razão de ser. Não andei de bicicleta, ou na esteira, só uma simples volta no quarteirão, com Luke, pela manhã.
Como disse Woody Allen, "não há nada de bom em envelhecer. Você simplesmente deteriora e morre."
Primeiro dia do nefasto horário de verão e mais uma vez o corpo tem que se acostumar com as mudanças. Não que faça uma grande diferença para mim.
Estava aqui pensando sobre a solidão, as horas inquietas antes de adormecer...
No sinal fechado vejo um casal já de certa idade atravessando a rua abraçados dividindo um guarda-chuva. Lembro-me de J me perguntando se um dia chegaríamos nessa fase ainda juntos. O tempo provou que não. E outra vez a consciência me pesa quando me pego pensando em M, o que tem se tornado um hábito difícil de largar. Sem expectativas, no future and still I got involved. Addicted to the sensations of being desired. Ok, I get obsessed sometimes, but it's like waves. When it reaches the higher pick, then I have to let it go, because it gets too intense and I can't handle. We keep teasing each other even knowing it's wrong. But why is wrong? If we feel good about it, we are not hurting anyone, are we? Maybe... you know, someone always gets hurt. But it's life, if you walk on the rain expect to get wet. So wise! I don't know what I'm talking anymore, maybe I should go to bed.
I miss you and I don't want to wait.

terça-feira, outubro 26, 2010

A paixão é um remédio

Lendo a página do Alberto Godin com esse título,fiquei pensando sobre essa questão da depressão. Ele fala que o cara é um deprimido que melhora quando conquista uma mulher.O jogo da sedução que antecede uma possível paixão funciona como um poderoso antidepressivo. O problema é que não sei jogar. Mas quando estou envolvida com alguém, tudo parece funcionar melhor. É como se o mundo, antes cinzento, ganhasse cores vívidas e intensas. Cara, mas fazemos cada merda quando apaixonados. Ou para ficar apaixonados. Esse estado de extâse dos enamorados. I've been acting like a fool these days. De repente me bateu uma vontade de te ver, conversar com você, olho no olho, tomarmos uma cerveja e rirmos das coincidências da vida, descobrindo afinidades aos poucos... Por que não sei freiar minha ansiedade e saio atropelando tudo?

segunda-feira, outubro 18, 2010

All I made just one mistake

A vida não é filme, você não entendeu
De todos os seus sonhos não restou nenhum
Ninguém foi ao seu quarto quando escureceu
E só você não viu, não era filme algum
E a mocinha se perdeu olhando o Sol se por
Que final romântico, morrer de amor
Relembrando na janela tudo que viveu
Fingindo não ver os erros que cometeu...
Tudo em nome do amor? Não sei, às vezes nos perdemos na busca do outro.Idealizamos demais, e a pessoa não corresponde aos nossos anseios.
"Nunca se contente com a primeira impressão porque quase nunca ela é puramente racional, ela traz uma carga afetiva pesada, baseada em vivências passadas, experiências pessoais, cultura, crenças e em questões mal resolvidas..." Pois é, garota, você tem toda razão quando diz:" não conduza as suas ações e julgamentos apenas pelo que as pessoas mostram ser superficialmente, o ser humano é muito complexo e boa parte do que somos, não mostramos (e em muitos casos, escondemos até de nós mesmos). Eu acreditei na fantasia e quando acordei era tarde demais. Havia uma grande abóbora na minha porta. (Risos)

segunda-feira, outubro 11, 2010

Forget and forgive

"I've learned that people will forget what you said, people will forget what you did, but people will never forget how you made them feel."Maya Angelou.

Sim, você fez com que eu me sentisse à vontade logo no nosso primeiro e único encontro. Muitas afinidades, bateu aquela coisa da química, como se fossemos velhos amigos a nos reencontrar. Mas alguma coisa se quebrou. Depois daquela noite,você nunca mais quis me ver ou falar comigo. O que aconteceu? A minha carência o assustou? Será que eu fui muito over? Lembro bem quando você veio me apanhar aqui, estacionou o carro do outro lado da rua. Eu não sabia que era você e te liguei. Acho que você já tinha todo o roteiro planejado. Fomos para Santa Teresa, você me mostrando as casas, paramos no Mike Haus. Um barzinho que me lembrou o velho El Chaco. O dono, um alemão bom de copo. Todo decorado com bonecos - marionetes - do Bob Marley e outros. Pedimos cerveja e o papo fluia naturalmente. Você pediu uma salada com salsichas. Eu estava de vestido, você usava uma bermuda. Eu disse que tinha gostado do lugar e você replicou que achava que eu ia gostar. Aparentemente o bar ia fechar, tinha acabado a cerveja que pedimos inicialmente. Eu falei que queria uma sobremesa, um chocolate... Você disse saber onde tinha. Na saída, você tentou tirar uma foto minha em frente ao bar com seu celular, mas disse que ficou muito escura. Entramos no seu carro e rodamos pelas ruas de St Teresa. Você parou para me mostrar uma casa que tinha um estilo meio oriental(?) e também o mirante do beco do rato? Você acariciava meus cabelos enquanto dirigia e de repente estavamos nos beijando... Paramos em frente ao sobrado onde você morava, Acho que subimos apenas um lance ou dois, de escadas. Os gatos vieram nos cumprimentar. Você me mostrou a janela do quartinho/despensa, de onde se tinha uma visão diferente da cidade. Na cozinha, uma planta diferente, meio geométrica. Na sala, Um quadro com uma foto do festival da canção ( Marília Medalha )... No banheiro, resquícios da infância: miniatura de carrinhos...Foi legal ou eu estava meio drunk? Deitados na cama, falei que não gostava dos meus pés. E você disse que eu era carinhosa. Levantou para apanhar um copo d'água pra mim. Eu vi as horas. Quase 5h da matina. Caramba, tenho que voltar para casa. Antes você me perguntou se eu queria uma camiseta para dormir. Eu achei melhor ir embora. Procuramos meu brinco que tinha caído embaixo da cama. NOs vestimos. Você me falou que os livros de culinária eram da sua mãe. Os chapéus pendurados, um era rosa. Mangueira? Entramos no seu carro, você me deixou na porta de casa. Falou que tinha namorado a filha de alguém que morava no meu prédio. O mundo é pequeno. Um beijo de despedida. No elevador me olhei no espelho, meio despenteada, o gosto dos seus beijos ainda na minha boca, no corpo a marca de suas mãos... e então, de repente, adeus.

Adagio Sostenuto

O tema central de ADAGIO SOSTENUTO, assim como o de todos os filmes desde “Variação sobre um Tema”, é a desarmonia entre o ser humano e seus arredores, entre o interno e o externo, colocada através de situações de perda, vazio ou impossibilidades, de onde se origina a sensação de que algo está irremediavelmente fora do lugar, quebrado e sem conserto, porque já foi construído dessa forma.
Para abordar esse conflito, os filmes trazem em si a idéia da repetição cíclica e infinita; procuram ritmo, textura e estrutura, para, em seguida, quando já estiverem plenos de imagem e som, quebrá-los, porque a vida é feita de sentimentos quebrados, esfacelados, recomeçados e inacabados. E um filme deve mostrar isto na tela, representar esses sentimentos através de imagem e som. Van Gogh escreveu em uma carta: “quero que as cores representem as emoções”. O que significa dizer que as cores são a emoção.
Sendo a estética o estudo das condições e efeitos da criação artística (e, no cinema, esta criação realiza-se através de imagens e sons), é como afirmar que a forma define o conteúdo. A forma é o conteúdo. Portanto, se faz necessário construir os filmes dentro da idéia de montagem como aproximação dialética entre imagem e som, ou seja, conectar e colidir as imagens e os sons, para que se possa sentir mais intensamente a desarmonia entre interno e externo, entre corpo e alma, entre pensamento e ação, e perceber que os eventos considerados secundários são, na verdade, os essenciais. Para acentuar essa desarmonia, o som (textos, músicas, ruídos e silêncios) é fundamental, não como um adorno ou algo que sublinha, mas como um corpo vivo, no mesmo nível de importância que a imagem.
As mulheres são um elemento básico em todos os filmes, devido ao fato de serem capazes de gerar e criar o agente principal de todos os conflitos: o ser humano. Simbolizando a ligação entre o interno e o externo, outros elementos se repetem, como portas, janelas, espelhos e oceanos.
Em 1978, “Variação sobre um Tema” terminava com uma mulher saindo de um quarto e abrindo uma porta que não se vê, mas se ouve, e deixando essa porta aberta, mantendo uma possibilidade diante de uma crise.
Agora, em ADAGIO SOSTENUTO, outra mulher vai se sentir como que atingida por um tufão em pleno oceano. Ela vai procurar desesperadamente a saída, até outra porta ser aberta, onde a estagnação dá lugar ao movimento e a derrota à celebração. Mas, quando se abre uma porta, deve-se estar pronto para o que pode entrar por ela. Ou para a saída que ela significa.

Retrato pra Iaiá - Los Hermanos

Ah, se eu peco é na vontade
de ter um amor de verdade.
Pois é que assim, em ti, eu me atirei
e fui te encontrar
pra ver que eu me enganei.

Depois de ter vivido o óbvio utópico
te beijar
e de ter brincado sobre a sinceridade
e dizer quase tudo quanto fosse natural
Eu fui praí te ver, te dizer:

Deixa ser.
Como será quando a gente se encontrar ?
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar.
Deixa ser como será!
Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.

De perto eu não quis ver
que toda a anunciação era vã.
Fui saber tão longe
mesmo você viu antes de mim
que eu te olhando via uma outra mulher.
E agora o que sobrou:
Um filme no close pro fim.
Num retrato-falado eu fichado
exposto em diagnóstico.
Especialistas analisam e sentenciam:
Oh, não!

Deixa ser como será.
Tudo posto em seu lugar.
Então tentar prever serviu pra eu me enganar.

Deixa ser.
Como será.
Eu já posto em meu lugar
Num continente ao revés,
em preto e branco, em hotéis.
Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê.