quinta-feira, setembro 23, 2010

Vinicius de Moraes - Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.
Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e

Uma noite em Santa Teresa

Chacara do Céu, Mirante Beco do Rato, Mike's Hauz, Parque das Ruínas, Castelinho, Bar da Goiabeira, Bondinho...
sei lá, alguns dizem que na maioria das vezes, pessoas importantes que cruzam o nosso caminho não são pessoas que vc conhece, mas reencontra.
quando o papo é bom e existem afinidades, é assim mesmo...
e suspeito que pessoalmente as afinidades continuarão...
pois é por isso digo "suspeita" ou "intuição"... e eu tendo cada vez mais a dar atenção à minha intuição
a mesma que chamou minha atenção para os seus olhos naquela foto
seja... normal...
é, acho q sim.
Marilia: mas como diria Caetano, de perto ninguém é normal...
só nós mesmos...
"O inferno são os outros"...
sim, com certeza...
rsrs
hi... não crie expectativas...
posso ser muito chato!!!
Imagina...
essa frase é minha... não crie expectativas... falo muito isso
jura?
viu, pesquei de vc...
hahaha
com minha intuição...
vc fala pra quem?
Marilia: elementar meu caro Watson
para todos que se interessam por vc?
boa
as vezes sim e as vezes para mim mesmo
já tive algumas decepções
e quem não as teve...
que atire a primeira pedra
- mas estou com um bom pressentimento em relação à nós dois...
e tentando não criar expectativas!
Mas o vazio tem o valor e a semelhaça do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu - a meu mistério.
Ando de um lado para outro, dentro de mim.
Estou bastante acostumada a estar só, mesmo junto dos outros.
"Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?
Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim -enfim, mas que medo - de mim mesma."
Clarice Lispector
Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. –
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
A vida que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...
Fernando Pessoa
Por que será?
Por que será
Que eu ando triste por te adorar
Por que será
Que a vida insiste em se mostrar
Mais distraída dentro de um bar
Por que será
Por que será
Que o nosso assunto já se acabou
Por que será
Que o que era junto se separou
E o que era muito se definhou
Por que será
Eu quantas vezes me sento à mesa de algum lugar
Falando coisas só por falar
Adiando a hora de te encontrar
É muito triste quando se sente tudo morrer
E ainda existe o amor que mente para esconder
Que o amor presente não tem mais nada para dizer...

quinta-feira, setembro 16, 2010

Arquivo68 - jornalismo

Brasil, 1968 – Assalto ao Céu, descida ao Inferno
Por Mário Maestri*
Em 1968, por primeira vez no Brasil, a Civilização Brasileira publicava O capital, de Kark Marx. Militantes imberbes devoravam os grossos volumes, de fio a pavio, página por página, sem compreenderem muito. Estudavam-se e debatiam-se os mínimos detalhes da revolução russa, chinesa e cubana, ainda que fosse bem menor o interesse sobre a história do Brasil, sobretudo do período anterior a 1930, durante o qual as categorias da sociologia do capitalismo não eram plenamente funcionais. Pelo país afora, discutia-se e polemizava-se duramente. O futuro estava ao alcance da mão. Abraçavam-se as nuvens, em um assalto aos céus.
1968: o ano do abalo
Porque é que em 1968 se assistiu a uma erupção abundante de tumultos, quase todos motivados por um sentido radical de recusa do existente? Partindo desta interrogação tácita, o jornalista americano Mark Kurlansky rememora, num registo solto e refinado, a história política e cultural destes doze meses que «abalaram o mundo», como sugere o título original numa alusão ao livro de John Reed sobre a revolução bolchevique de 1917.
É a realidade americana que serve de modelo de abordagem, ocupando, aliás, mais de metade dos capítulos do livro. Se isto pode parecer, à primeira vista, uma fraqueza do texto, por outro, o desenho do clima político-geracional que atravessa os territórios americanos permite dar conta de uma série de fenómenos que não deixaram de ter impacto noutros países. De facto, uma das razões da coincidência cronológica da rebeldia está precisamente na existência de uma cultura juvenil, partilhada por faixas crescentes das juventudes urbanas escolarizadas em diferentes latitudes, uma boa parte dela proveniente dos Estados Unidos da América, e que era agora difundida a larga escala pelos meios de comunicação de massa. Uma cultura juvenil difusa circulava com intensidade o que explica, de certa maneira, o apelo do New York Times na Primavera desse ano: «para aqueles que têm menos de trinta anos, Praga é sem dúvida o sítio onde se deve estar este Verão» (p.325).
1968 – Recordar, criticar, discutir
O dossier sobre 1968 que o leitor tem sob os olhos não se quer uma peça de celebração. Incentiva a recordação – direta e indireta – para chegar à crítica, e discuti-la, e vê neste tipo de abordagem a melhor forma de compreender a gesta dos tantos que pretenderam mudar o mundo ou, pelo menos, virá-lo de ponta-cabeça.
Em alguns momentos e lugares, foi possível virar o mundo de ponta-cabeça. E nesta posição ele até ficou mais interessante, e mais divertido, sem dúvida. Mas não durou muito. As forças reacionárias e cinzentas, sem contar os indiferentes, de direita e de esquerda, chegaram com seu hálito frio e prudente e puseram as coisas no lugar. Ou, pelo menos, tentaram fazê-lo.
Mas também não conseguiram.
De fato, o mundo não mais seria o mesmo.
Este foi o principal feito de 1968. As coisas não mudaram tão rápido como os mais radicais queriam. Nem tão profundamente. Mas também não continuaram as mesmas. Nunca mais o seriam.
Estudar 1968 nas múltiplas propostas e cores que assumiu. No legado que deixou. E também tentar compreender melhor a força das tradições que venceram, ao menos no curto prazo. Um programa que não pode se configurar apenas de dez em dez anos, mas se tornar uma condição permanente da pesquisa e do debate.
“68: O ano que jamais terminará”
Os Sonhadores”
(The Dreamers) Direção: Bernardo Bertolucci.
“Corações e Mentes”
(Hearts and Minds) Direção: Peter Davis.
. “Panteras Negras”
(Panther). Direção: Mario Van Peebles.
“Sem Destino”
(Easy Rider) Direção: Dennis Hooper.
“Pra frente Brasil”
Direção: Roberto Farias.
“Um convidado bem trapalhão”
(The Party). Direção: Blake Edwards.
“A confissão”
(L’Aveu) Direção: Konstantinos Costa-Gavras.
“Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita”
(Indagine su un citadino al di sopra di ogni sospetto) Direção: Elio Petri.
“A bela da tarde”
(Belle de jour) Direção: Luis Buñuel.
“Perdidos na noite”
(Midnight Cowboy). Direção: John Schlesinger.
“Vai trabalhar vagabundo”
Direção: Hugo Carvana.
“O Planeta dos Macacos”
(Planet of the Apes) Direção: Franklin J. Shaffner.
“Barbarella”
(Barbarella) Direção: Roger Vadim.
“A noite dos mortos vivos”
(Night of the living dead) Direção: George Romero.
“The Edukators”
Direção: Hans Weingartner.

terça-feira, setembro 14, 2010

Como Esquecer

Não se trata de querer esquecer o que já passou
A questão é justamente esquecer o que nunca existiu
Como querer esquecer o amor que não tive, o abraço que nunca recebi e o beijo que tanto ansiei?
Como esquecer que um dia amei e que este amor não se consumou?
Como esquecer os planos que eu tinha, a amizade, a ternura e o cuidado com que eu tocava palavras e gestos sem você perceber?

"Sexo, Amor, Endorfinas & Bobagens"


"A paixão, como descrita pela ciência, é um estado fisiológico, com sintomas psíquicos e físicos, em que há uma intensa atividade cerebral e hormonal muito semelhante à do vício por uma droga, como a cocaína. O julgamento crítico, o discernimento, e a racionalidade em relação ao parceiro estão muito reduzidos, especialmente nos primeiros meses." É assim que a médica Cibele Fabichak, autora de "Sexo, amor, endorfinas e bobagens" (Ed. Novo Século), define o estado de enlevo que se apossa dos amantes de forma avassaladora, mas tem prazo para acabar: no máximo quatro anos.
AS TRÊS FASES DO AMOR: "O que a ciência tem nos mostrado é que o amor, do ponto de vista biológico, tem três estágios independentes. O primeiro é o desejo ou luxúria, a busca da satisfação sexual, comandada por hormônios sexuais, principalmente a testosterona, sem uma elaboração emocional maior. O segundo estágio é o do amor romântico ou paixão, da atração física e sexual. Esta fase é marcada por uma cascata de substâncias, como noradrenalina, endorfina, serotonina, e também testosterona, estrógeno e progesterona. O terceiro estágio é o da construção gradual do vínculo duradouro, o amor propriamente dito. Nesta fase há a ação do hormônio oxitocina na mulher e vasopressina no homem, os hormônios do vínculo."
COMO UM VÍCIO: "Na fase da paixão, algumas substâncias no cérebro se alteram. As endorfinas, a adrenalina, a noradrenalina e a dopamina aumentam, enquanto a serotonina diminui. Este equilíbrio de substâncias acontece de forma semelhante no transtorno obsessivo compulsivo e no vício por drogas, como cocaína. Ou seja, a paixão é um estado semelhante ao de um vício em uma droga. E está na fronteira com transtornos. Uma linha de pesquisa italiana está estudando justamente o momento em que a paixão se torna patológica e salta para o transtorno."