terça-feira, setembro 21, 2004

Ontem à noite, um filme me deixou acordada até o seu final, à 1h30 da madrugada. Belas imagens da ilha de Malta, forte teor erótico. A atriz Paz Vega, que faz Lucia, chama mais atenção do que o seu objeto de amor, Lorenzo, interpretado pelo ator Tristan Ulloa. Jávier Camara que fez "Fale com Ela" também está no elenco. Um filme forte, bom de ver em casa, bem acompanhada.


O título sugere um trabalho erótico. E, em certo sentido, é. Pois são muitos os encontros sexuais em Lucia e o Sexo, de Julio Medem. Alguns deles são explícitos. Há até imagens do órgão sexual masculino. É um bom pretexto para ver tudo como pornografia disfarçada de arte, mas não.O sexo não é tratado ali de forma sensacionalista para encher os olhos e estimular o voyeurismo. Ganha outra função, menos plástica, mais essencial. Altera rumos, gera fabulações e produz danos aos personagens, como uma força vital que cria, modifica e arruína vidas. A rigor, é um belo filme sobre a vida. Encara os seres humanos como ilhas à deriva, sempre movidos a desejos, fantasias, ações e acasos, em busca de controle sobre suas trajetórias. Não de forma linear, mas com começos e recomeços, encontros e desencontros, de olhos no presente e nas lembranças, movidos pela influência das forças da natureza. A existência é vista como uma soma de premeditação e predestinação. Ações planejadas entram em sintonia, mas também em choque, com outras moldadas por uma ordem cósmica. As intenções dão as mãos e travam quedas-de-braço com as casualidades. Assim descrito, o filme parece enigmático. Sem deixar de sê-lo, ganha uma força danada na tela.
A figura central, apesar do título, é Lorenzo, um escritor. No começo do filme ele está em crise. Telefona para a namorada, Lucia, e sofre um acidente. Uma bem amarrada série de flash-backs mostra sua relação com outra mulher, o inusitado início de namoro com Lucia, o envolvimento com uma história escrita por ele a partir de situações reais, a interferência dessa história em sua vida e uma tragédia ligada tanto a seu passado quanto a sua literatura. Por trás de todos esses acontecimentos, ou à frente deles, está o potencial mobilizador do desejo. Ele gera vida e morte. Desperta fatos e ilusões. Em uma das melhores cenas, Lucia diz durante o orgasmo: 'Assim eu morro'. Vida demais para ser concentrada em um instante. Sexo como subversão do ordinário.
Os mistérios da vida e das emoções, dessa imprecisão denominada destino, são mantidos envoltos em dúvidas. Não há certezas em Lucia e o Sexo. Sua estrutura é intrincada. Começa quase pelo fim da história, volta ao começo e vai intercalando os tempos narrativos, realidade e imaginação. O avanço em tempos e naturezas paralelos reflete o deslocamento dos personagens. Eles saem de seus rumos por meio de caminhos fora do mapa e reinventam os trajetos pelos buracos da imaginação.
Autor de origem basca, o diretor Medem, faz um cinema único. No panorama espanhol, marcado por exóticas comédias de comportamento influenciadas por Pedro Almodóvar, parece um alienígena. Seus filmes são cultuados por muitos freqüentadores de mostras de cinema, como os interessantíssimos Vacas, Esquilo Vermelho, Terra e Os Amantes do Círculo Polar. Este último, de um romantismo dolorido e trágico, é o de maior sucesso. Uma palavrinha rara para Medem. Alguns acham que, ao dar tom fantástico a temas realistas, ele esbarra no hermetismo. Mas sua força está em ver a vida sob uma cortina de enigmas. Mesmo quando parece explicar esses mistérios, não se atreve a acabar com eles. Ao contrário da ciência, das religiões e das filosofias, a imprecisão é seu objetivo. ( Crítica de Cléber Eduardo, Revista Época.)

segunda-feira, setembro 20, 2004

Queria não estar tão cansada assim, mas dormi pouco e sempre que isso acontece, acordo transmitindo no piloto automático. Vamos ao Diário do último fim de semana.
Sexta estava chovendo fininho quando fui apanhar Bia na escola e esqueci de levar o guarda-chuva. Paramos na Loja da Lilica Ripilica e enquanto eu via as roupas, Bia se apaixonou por um óculos e pediu-me para comprar. Por quê não? Saímos de lá com uma blusa, um par de sandálias e um óculos de sol very stylish. Ainda chovia quando chegamos em casa, eu pedi para que ela tomasse banho e dessa vez, ela foi sem reclamar. Fui esquentar nosso jantar: arroz à piamontese e medalhão de filé mignon. Um dos pratos favoritos dela. Vimos tv e depois ela foi dormir.
No sábado, ela acordou cedo e ligou a tv, como sempre. Levantei e fui comprar pão e o jornal. Demoramos para sair, porque ainda tive que lavar os pratos. Não tinha sol, então não vestimos o biquini, saímos só para dar uma volta na praia, ela brincou um pouco na areia e tirei algumas fotos. Voltamos para casa, almoçamos, vi dois filmes que tinha alugado. Uma comédia bobinha chamada A Date With Tad Hamilton - serviu apenas para dar uma olhada em Josh Duhamel - e um drama sueco: "Evil". Bia pediu para irmos ao McDonald's, mas antes fomos devolver os filmes na locadora e ela comprou mais uma revista Recreio.
No domingo, tínhamos um aniversário para ir na casa de uns amigos. Um casal com dois filhos e que não medem esforços para dar uma boa festa. No gramado, eles instalaram uma cama elástica e um daqueles escorrega/tobogã inflável. Sem falar nas máquinas de video game na garagem. Churrasco, sorvete e todas as guloseimas que criança adora. Foi bem divertido. As crianças brincavam sem dar trabalho e os adultos conversavam. Um ambiente descontraído, acabou sendo uma ótima maneira de passar o domingo.

sexta-feira, setembro 17, 2004

Publicar meus pensamentos não é uma tarefa fácil. Primeiro, preciso me livrar do meu censor, aqui, dentro do meu cérebro, dizendo que nada disso tem valor, que não devo me abrir assim.. uma luta feroz do id, ego e super ego. Ou talvez não seja nada disso. Enquanto isso , enquanto baixo o novo cd do Kings of Convenience e leio vários blogs, orkut, meus mails... too much information, depois de um farto jantar e meia garrafa de vinho argentino - supostamente para liberar minha mente criativa - me encontro sonolenta diante do computador, sem mencionar a dor nas costas. Melhor ir dormir, qeum sabe nos sonhos me realizar.
Ouvindo: Embrace, Ian Brown, Phoenix, Kasabian, Soulwax, Kings of Convenience, P.J. Harvey
MMesmerizing
AAppealing
RRare
IIdeal
LLittle
IIntense
AAmbivalent

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quinta-feira, setembro 16, 2004


Underworld: Kate Beckinsale interpreta uma vampira que se vê dividida entre a sobrevivência de sua raça e o amor proibido que sente por um lobisomem da raça rival, interpretado por Scott Speedman, o Ben, de Felicity. Um romance de terror? Não, apenas um exemplo de boas idéias mal aproveitadas. 
Também assisti Ken Park, um filme pretensamente cult de Larry Clark, o mesmo diretor de Kids."Com cenas de sexo explícito e sado-masoquismo, procura chocar o espectador sem estabelecer um ponto de vista." Parece um pornô juvenil. Posted by Hello

quarta-feira, setembro 15, 2004

Acabei de comer um big sanduiche feito com fatias de pão integral e recheio de atum, maionese, beterraba e cenoura ralada. Para descer tudo, uma coca bem gelada. Quase perfeito.
Ouvindo a BBC Music, tocando The Jam: Pretty Green. Mesmo sendo uma música antiga, so refreshing to hear. Antes, Ian Brown com Keep What Yer Got - vou acabar enjoando de tanto ouvir - também tocou :Embrace-Ashes, The Thrills-Whatever Happened To Corey Haim, Kings Of Convenience-Homesick, Aberfeldy- Something I Must Tell you... por aí vai. Absolutely brilliant! Vontade de estar em Londres.
Anyway, lembrei da carinha de Bia quando a deixei na escola. Ela não foi com o uniforme da escola e levou o presente para um dos coleguinhas, porque eu vi o convite de aniversário e não olhei a data, pensei que a festinha fosse hoje, mas não era. Ela me entregou o presente de volta com uma cara que era uma mistura de raiva e vergonha. Se pudesse ouvir os pensamentos dela: "Que mico, hein,mamãe?"
Yesterday came suddenly.
Tomorrow will we see?
Today now you’re at the wheel.
I’ll ask “how does it feel?”
Yesterday when heaven's gates I contemplate.
They seem so far.
Today they ain’t so far away and almost seem a drag.

Keep what yer got by giving it all away.
Keep what yer got by giving it all away.
Keep what yer got, hold it don’t stop.
Keep what yer got, by giving it all away.

When your halo slips for good you’ll have to wear your hood.
Good to feel the breeze of fear on all the cynics.
And you mimic all you losers all abusers wasting all my precious energy.

Keep what yer got by giving it all away.
Remember where you came from.
Sister she told ya on a rainy day.
It’s said that heaven holds a place for all of those who pray.
And if you don’t believe in agony then you don’t care anyway.
Nobody or nothing’s ever getting in your way.
Even as you cradle on but don’t think you’ll be long.
No-ones gonna notice if yer never right or wrong.
And if you and your next neighbour, yeah you don’t quite get along.
No-ones gonna notice if your singing anyway.
Those not coming with with the few well then they gotta pay...(Ian Brown)

 Posted by Hello
OCEANS (Anderson / Codling)
We sit in silence
A marriage license
Is all you know
All you know, all you know

We sit and chew gum
Watch television
And you know
And you know, and you know

But there's oceans between us
Light years that screen us
Oceans that drift away
Oceans that fade to grey

We sit and rot here
Resenting each year
Will you go
Will you go, will you go?

We sing the old songs
The beat box plays on
And you know
And you know, and you know

But there's oceans between us
Light years that screen us
Like oceans we drift away
(Like) oceans we fade to grey

Between us there's oceans
There's life in slow motion
Quietly we drift away
Quietly we fade to grey...(música do Suede - A New Morning)LInda!

terça-feira, setembro 14, 2004

O poeta grego Konstantinos Kaváfis, que morreu em 1933, deixou uma página intitulada "À Espera dos Bárbaros" [em "Poemas", ed. Nova Fronteira]. Num império não nomeado, anuncia-se que os bárbaros se aproximam. Os cônsules e pretores vestem-se com as togas mais finas e com as jóias mais ricas para deslumbrar os invasores. Os senadores deixaram de legislar; não vale a pena. O imperador se posta à porta da cidade, solene, coroa na cabeça, quer ser o primeiro a recebê-los. De repente, uma inquietação. As pessoas se recolhem com ar sombrio. O que teria ocorrido? "É que a noite caiu", responde alguém, "e os bárbaros não chegam. Pessoas vieram das fronteiras e dizem que não há bárbaros...". O poema conclui: "E agora, que será de nós sem bárbaros? Essa gente, apesar de tudo, era uma solução".
"Kovadloff (...) é dos que procuram exprimir, através das palavras, intuições obscuras e obsessivas", escreveu Ernesto Sabato. Através, termo justo, já que algo se desenha por trás da transparência, clara ou embaçada, de suas frases. Algo que o leitor vislumbra, aproxima, captura quase, ou vê escapar.
A editora José Olympio publicou "O Silêncio Primordial", ensaios de Santiago Kovadloff, pensador argentino. O estilo é admirável e, a tradução, excelente. Kovadloff expõe o pressuposto silencioso por trás da poesia, da psicanálise, da música, da matemática, da religião, da pintura e do amor. Pode-se nem sempre estar de acordo com alguns procedimentos de sua compreensão, mas não importa. O modo como isso é dito é o estimulante. Muito belo também.
Veja-se esta passagem sobre a carícia: "É em virtude da sua constituição que o silêncio amoroso encontra na carícia o meio adequado para a manifestação de sua melhor eloqüência. A carícia se estende sobre a amada. Na tranqüilidade inigualável de seu lento desdobramento podemos reconhecer que, com ela, se celebra uma presença sem que se caia na cega ilusão possessiva. (...) A carícia é a incomparável voz elementar do silêncio amoroso: com ela se acata e exalta o que há de inalcançável na beleza da amada. Mediante a delicadeza incomparável de sua forma, a carícia desliza sobre a pele sem confundir o que se brinda ao tato com o que se pode apreender".
Folha de São Paulo

segunda-feira, setembro 13, 2004

De noite enlouqueço. As palavras aparecem. Um sonho fora de foco. Lábios úmidos contra os meus. Acordo, mas não totalmente. O sonho me persegue, quero voltar para dentro dele. A luz do dia me chama. As palavras somem, os sentidos prevalecem.

terça-feira, setembro 07, 2004

Sobre Sophia de Mello Breyner Andresen: Sophia, uma poeta de cristal
Versos na Areia
"A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora." (06/11/1919 a 02/07/2004)
"Em nome da tua ausência
Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei."
"No ponto onde o silêncio e a solidão se cruzam com a noite e com o frio, esperei como quem espera em vão, tão nítido e preciso era o vazio."
"Intacta memória —se eu chamasse
Uma por uma as coisas que adorei
Talvez que a minha vida regressasse
Vencida pelo amor com que a sonhei."
Depois da cinza morta destes dias,
Quando o vazio branco destas noites
Se gastar, quando a névoa deste instante
Sem forma, sem imagem, sem caminhos,
Se dissolver, cumprindo o seu tormento,
A terra emergirá pura do mar
De lágrimas sem fim onde me invento.