Bombas armênias
Bernardo Araujo para O Globo
Nada como a interpretação de quem está analisando uma questão do lado de fora. A questão em questão é nada menos do que os Estados Unidos da América e sua cultura, sua paixão pela guerra, pelo imperialismo, a profunda superficialidade da Califórnia, etc. Quem interpreta tudo isso é um quarteto de rapazes esquisitos com nomes idem: Serj Tankian, Daron Malakian, Shavo Odadjian e John Dolmayan, o System of a Down, uma das bandas de rock pesado mais interessantes e bem-sucedidas do atual milênio. Descendentes de armênios — o que dá um sabor oriental a seu som — e ao mesmo tempo californianos da gema, eles lançaram recentemente seu quarto disco, “Mesmerize”, que foi direto ao primeiro lugar da parada americana.
Nas 11 músicas de “Mesmerize” — que ganharão uma continuação em “Hipnotize”, com lançamento marcado para novembro — o quarteto continua a revolução deflagrada em “Toxicity” (2001) e “Steal this album” (2002).
De fato, é difícil uma mensagem tão cristalina quanto a de “B.Y.O.B.”, primeiro sucesso de “Mesmerize”. Aos berros, Tankian (os vocais são divididos entre ele e o guitarrista Malakian) pergunta: “Por que os presidentes não vão para a guerra?/ Por que eles sempre mandam os pobres?”. No refrão, o instrumental ultrapesado e agressivo cai para uma levada dançante (que, no clipe, é acompanhada por uma troca no visual dos músicos, que ficam mauricinhos), e a dupla canta: “Todos vamos para festa/ Nos divertir a valer/ Dançando no deserto/ Explodindo o brilho do sol”. O nome da música, aliás, é um trocadilho com a expressão “Bring your own bottle”, ou “Traga sua própria garrafa”, trocando “bottle” por “bomb”.
Tom Leão: O mais louco nisso tudo é que o SOAD não faz exatamente metal. Não só. Apesar das guitarras e da bateria pesadas, o que tem por baixo das camadas são influências diversas, que passam também pelo progressivo, pelo rock clássico americano e pelo hardcore/punk, com alguns leves toques ciganos. Mas não interessa tanto o condutor, e sim o que vem dentro do pacote. A banda consegue fugir do óbvio, dos temas abstratos, da raiva por si só, e compõe um álbum extremamente ambicioso que não afunda em sua pretensão. E tudo acaba com a épica “Lost in Hollywood”. “All you bitches put your hands in the air and wave them like you just don't care” (“Todos vocês, suas vacas, botem suas mãos para o alto e as agitem como não se importassem”).
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