sexta-feira, outubro 24, 2003

Tempo - Alexandre Inagaki
aos meus avós

Ponteiros são nada;
tempo não se ata a números.
Tempo é bicho sem Deus,
livre, deliciosamente livre.
Tudo é a sua morada.

Tempo cura tudo,
tempo não tem cura.
Sem como nem porquê
tempo vai passando.
Tempo, até quando?

Tempo é o verde do broto,
tempo é o verde do mofo.
Tempo é aprendizado e esquecimento.
Tempo é menarca e menopausa.
Tempo é menos.

Tempo é o sangue cicatrizado na pele.
Tempo é a dor de um parto.
Tempo é um filme cujos atores morreram.
Tempo é computador ultrapassado.
Tempo é a chuva e o rosto em silêncio.

Tempo é carro preso no engarrafamento.
Tempo é o pó na fotografia dos pais.
Tempo é a fúria de dois corpos na cama.
Tempo é o som das folhas libertando-se do galho.
Tempo, serpente afirmadora da vida.

Tempo passa passa tempo,
passa rápido passa lento.
Sem trilhos, corre como trem.
Sem asas, voa feito avião.
Sem pena, vai.

Tempo é aceitação.

Nenhum comentário: