terça-feira, setembro 30, 2003

Deitei na cama, no escuro e fiquei ouvindo o barulho da chuva caindo. O sono não vinha. Vontade de chorar. Por que deixar que me controlem assim? que me tratem assim? Prisioneira de uma vida aleatória, me resigno. Fate, up against my will...
Um Olhar Sobre a Banalidade da Vida.
"É nos sentimentos de inadequação, no questionamento do sentido da vida que levam, e na perspectiva sempre presente do suicídio que está a ligação entre as mulheres de Cunningham. O lado insuportável da vida que elas levam, em cenários diferentes, em situações sociais distintas, em condições tão díspares, fazem de Virgínia, Laura e Clarissa mulheres que sofrem não por coisas banais -elas são angustiadas pelo sentido da própria existência. Constatam esta dor nos gestos e atos cotidianos a banalidade da vida."
Carla Rodrigues

segunda-feira, setembro 29, 2003

Um esclarecimento: O My Chronicles não acabou, só está temporariamente fora do ar porque o Blogger.br está me bloqueando. Então, se não tiver post novo por lá, tentem aqui.
Nesse fim de semana, vi dois filmes. Primeiro: "Prenda-me se For Capaz", mais um filme pipoca de Steven Spielberg. Leonardo Di Caprio faz o papel de Frank Abagnale Jr., que quando adolescente se disfarçava das mais diversas profissões e ganhou milhões de dólares em seus golpes. Tom Hanks faz o agente do FBI que depois de várias tentativas, consegue finalmente prendê-lo. Christopher Walken é o pai de Frank e sua grande influência. Baseado numa estória verdadeira e adaptado para os padrões Hollywoodianos.
E vi também um filme que me chamou a atenção: Donnie Darko. É uma estória intrigante que deixa você pensando no que realmente aconteceu. O DVD traz duas legendas em português, sendo que a segunda traz os comentários do diretor. É preciso assistir duas vezes para não perder os diálogos. Nada é muito simples. Jake Gyllenhaal faz o enigmático Donnie Darko, um adolescente que tem visões, em especial a de um coelho monstruoso o qual apenas ele consegue ver. Ele está fazendo terapia e acredita-se que seja sonâmbulo. É assim que ele escapa da morte, pois no meio da noite, a turbina de um avião cai dentro de seu quarto. Clique aqui:Donnie Darko , para entrar no site oficial e aqui:rottentomatoes , para ter acesso às críticas en inglês. O filme começa com uma tomada das montanhas muito bonita ,e depois entra a música "The Killing Moon" do Echo & the Bunnymen. Mais adiante tem uma versão de "Mad World" do Tears for Fears. Sobre o elenco: a atriz Katherine Ross que participou de "Butch Cassidy & Sundance Kid" faz o papel da terapeuta de Donnie. Drew Barrymore, que também produz o filme, faz uma das professoras e Noah Wyle, do seriado E.R., um dos professores. Pouco gente assistiu essa intrigante estória que é a estréia do diretor Richard Kelly, no cinema. Vale a pena ver.
Correspondências... Recebi esse e-mail de minha irmã.
"Acabei de chegar de Frankfurt onde passei um dia que queria compartilhar com vocês.
Frankfurt eh uma cidade altamente interessante. Seus elegantes e altssimos prédios se contrastam com belos exemplares da arquitetura barroca e do estilo Fachwerk ( aquele das madeirinhas entrelaçadas).
Nas ruas, rostos e línguas de um mundo vasto vasto... e o tranquilo e romântico rio Main deixando a paisagem mais humana, mais cheia de vida.
Estive á procura de livros, por isso entrei em tudo que foi antiquário, livraria, biblioteca. Acabei comprando um livreto com alguns contos de Virgínia Woolf, com introdução de Doris Lessing. Um livrinho lindo de capa azul, tendo ao fundo uma paisagem esfumaçada.
Entrei na WOM ( World of music) e de lá quase nao saí... fiquei ouvindo Dido e sua Bandeira Branca( White Flag) e o grupo que Marília me mandou o Elbow... mas o magnetismo ficou com Annie Lennox, não me contive ouvindo essas melodias pungentes e tao verdadeiras.Comprei no ato, apesar do preco, rararara.
Comi sushi , assim delicioso... cheguei a conclusão que tenho que aprender a fazer isso em casa.
Entrei na catedral lá do centro e por coincidência , alguém estava tocando orgão (talvez um ensaio). Nossa, foi de lascar. Fiquei quase que hipnotizada lá dentro, olhando aqueles santos de ouro , aquele teto oval e a música entrando nos meus poros, que coisa linda,emocionante.
Fui ver as ruínas de uns banhos romanos que tem quase vizinho a catedral, impressionante que elas apenas foram descobertas depois da segunda guerra...
Fui ver os arranha- céus .
Os bancos.
A bolsa.
Tomei café no starbucks coffee, uau!
Vi muito homem de terno e mulher de terninho.
Sentei num banco de praça e fiquei vendo o povo passar.
O clima estava bem ameno e as pessoas sorriam.
O dia sorriu para mim e eu sorri para o dia.
É muito bom estar viva .
Deixei esse começo de outono entrar em mim como um amante matreiro e me encontrei feliz.
Um beijo, Maria." (Alemanha, 26 se setembro de 2003)
Peguei esse livro - Passeio ao Farol - para ler. Folheei algumas páginas e encontrei essa passagem:"Todas as crianças passam por fases. Por que, perguntou-se, por que precisavam crescer tão depressa? Por que precisavam ir para a escola? Gostaria de ter sempre um bebê. Era a pessoa mais feliz do mundo quando carregava um bebê nos braços.(...)Ali estava diante dela: a vida. A vida: pensava mas não terminava o pensamento. Olhou a vida de relance, pois a sentia nitidamente ali, algo real, íntimo, que não compartilhava com os filhos ou com o marido..."
Bia está numa fase assim meio rebelde. Ou seria eu que não tenho mais paciência pra dizer: faça isso, não faça assim, me obedeça. As pessoas quando olham para mim, não me vêem como mãe e dona de casa. Eu talvez não seja mesmo boa nesse papel, só dou conta do recado, às vezes, com um enfado tremendo.

quinta-feira, setembro 25, 2003

Querida amiga,
Todos nós carregamos nossos fardos e se fôssemos fazer uma avaliação profunda de nossas vidas, veríamos que somos muito felizes dentro do que a nossa rotina permite. O marido passa o dia no trabalho, ficamos envolvidas em nossas tarefas domésticas (ou não). Ele chega cansado, come, vê tv e vai dormir, não há diálogo, não há nenhuma troca de carinho e assim vamos levando, vez ou outra iluminados por um momento que faz todo o resto valer a pena. Ou não. . Freud explica e complica. Somos todos egoistas, minha cara. Dentro dos nossos mundinhos, olhando para os nossos umbigos. Chega de divagar...
Querido Ndugu,
Hoje me bateu uma saudade de meu pai tão forte que eu não pude conter as lágrimas. Se você tem um pai, não se esqueça de dar um abraço bem forte nele, todos os dias, aproveite os momentos juntos. Quando meu pai morreu, nosso relacionamento estava começando a melhorar, eu estava aprendendo a ter mais paciência com aquele homem meigo e explosivo. Por um tempo, eu tive muita raiva, por causa de minha mãe e do temperamento dele. Mas meu pai deixou uma marca que nem os 12 anos de sua morte apagaram. Eu não esqueço da última vez que o vi, a despedida no elevador, os olhos dele cheios de lágrimas, como se soubesse. Como se previsse, ele estava relembrando a morte de um colega, num acidente de carro, anos atrás. Para depois encontrar a morte na traseira de um caminhão, na estrada para Mossoró.
Talvez tudo isso me tenha vindo à memória por causa do livro que encontrei. "Lanterna Mágica", um livro auto-biográfico de Ingmar Bergman. Dentro a dedicatória: "Marília, decidi-me por Bergman, achei mais parecido com você. Um beijo." Ele assinou uma rúbrica quase ilegível, em 30 de março de 1990. Um dia depois de meu 22º aniversário. Não lembro bem, acho que tinha pedido uma biografia de Truffaut ou Kurosawa. No ano seguinte, ele morreu. Eu tinha um diário onde escrevia de tudo um pouco, mais sobre mim, minhas dúvidas, minha rotina... e nele estavam todas as minhas recordações sobre essa última semana santa que papai passou conosco, em Natal. Alguns meses depois, eu estava em uma estação de trem em Frankfurt e alguém roubou minha mochila. Dentro, estava esse diário. Então, esse ladrão roubou um pedaço de minha vida. Embora eu me lembre, com uma nitidez mórbida, do rosto inchado de meu pai dentro de um caixão.
SONG TO THE SIREN
(Tim Buckley)
On the floating, shipless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."
Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning, broken lovelorn on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."
Imortalizada na voz de Liz Fraser, vocalista do Cocteau Twins, ela gravou essa música com o projeto This Mortal Coil. Sempre que ouço, me sinto emocionada pela melancolia e tristeza da canção.

quarta-feira, setembro 24, 2003

A primavera começou e hoje vi no relógio da rua a temperatura desse dia iluminado: 39 graus!
Querido Ndugu,
Eu tenho esse vicio terrivel de escrever blogs e acabo esquecendo as senhas de cada um. Estava pensando em algo interessante para escrever e simplesmente não consigo. Encontrei esse blog: kaleidoskopio e escolhi esse post para mostrar o talento de alguém que escreve bem.
" Eu disse a ela (meio prometendo a mim mesma) que pretendia escritos ensolarados. Mas o azul que pintava a sexta-feira se acinzentou com a tarde, e fincando os cotovelos no mármore da janela eu assisto hipnotizada o antigo apartamento ser preparado para receber mais um morador. Eles pintam e repintam as paredes de branco, mas o descascado da veneziana continua por lá. Emoldurando talvez recordações demais para ficarem assim escancaradas sob meus olhos inconstantes.
Abrindo aquela mesma prancha vacilante de madeira, um dia eu vi os operários do lado de cá arrancando e levando embora a banheira antiga e lamentei sem saber ainda por quê.
Agora, esticando o corpo, vejo por uma fresta do basculante que cobriram também de branco umas últimas marcas que eu deixara no banheiro. Para valorizar o imóvel, talvez. Mas não trocaram as madeiras por alumínio e nem levaram as louças antigas. Ainda.
O sol volta aos poucos, eu sei. É que faltam ainda alguns dias para a primavera."
por Daniela Belmiro.

quinta-feira, setembro 18, 2003

Então é isso. O Blogger.br esgotou a minha paciência e eu resolvi voltar para onde comecei.