O tema central de ADAGIO SOSTENUTO, assim como o de todos os filmes desde “Variação sobre um Tema”, é a desarmonia entre o ser humano e seus arredores, entre o interno e o externo, colocada através de situações de perda, vazio ou impossibilidades, de onde se origina a sensação de que algo está irremediavelmente fora do lugar, quebrado e sem conserto, porque já foi construído dessa forma.
Para abordar esse conflito, os filmes trazem em si a idéia da repetição cíclica e infinita; procuram ritmo, textura e estrutura, para, em seguida, quando já estiverem plenos de imagem e som, quebrá-los, porque a vida é feita de sentimentos quebrados, esfacelados, recomeçados e inacabados. E um filme deve mostrar isto na tela, representar esses sentimentos através de imagem e som. Van Gogh escreveu em uma carta: “quero que as cores representem as emoções”. O que significa dizer que as cores são a emoção.
Sendo a estética o estudo das condições e efeitos da criação artística (e, no cinema, esta criação realiza-se através de imagens e sons), é como afirmar que a forma define o conteúdo. A forma é o conteúdo. Portanto, se faz necessário construir os filmes dentro da idéia de montagem como aproximação dialética entre imagem e som, ou seja, conectar e colidir as imagens e os sons, para que se possa sentir mais intensamente a desarmonia entre interno e externo, entre corpo e alma, entre pensamento e ação, e perceber que os eventos considerados secundários são, na verdade, os essenciais. Para acentuar essa desarmonia, o som (textos, músicas, ruídos e silêncios) é fundamental, não como um adorno ou algo que sublinha, mas como um corpo vivo, no mesmo nível de importância que a imagem.
As mulheres são um elemento básico em todos os filmes, devido ao fato de serem capazes de gerar e criar o agente principal de todos os conflitos: o ser humano. Simbolizando a ligação entre o interno e o externo, outros elementos se repetem, como portas, janelas, espelhos e oceanos.
Em 1978, “Variação sobre um Tema” terminava com uma mulher saindo de um quarto e abrindo uma porta que não se vê, mas se ouve, e deixando essa porta aberta, mantendo uma possibilidade diante de uma crise.
Agora, em ADAGIO SOSTENUTO, outra mulher vai se sentir como que atingida por um tufão em pleno oceano. Ela vai procurar desesperadamente a saída, até outra porta ser aberta, onde a estagnação dá lugar ao movimento e a derrota à celebração. Mas, quando se abre uma porta, deve-se estar pronto para o que pode entrar por ela. Ou para a saída que ela significa.
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