A chuva continuava a cair lá fora e apesar da sensação de sentir-se presa, dava também um certo alívio deixar-se ficar em casa, em segurança e sem se molhar. Como se não houvesse mais nada a fazer, e por isso não se sentir culpada por não estar se divertindo.
Por fim, no domingo, o sol apareceu um pouco, pelo menos para dar vontade de sair, observar as pessoas, ver a praia, sair do isolamento. Mas ele não quis sair, disse estar cansado. Ela pensou na frase de uma mulher: "agora estou casada, não me sinto sozinha." E ela nunca se sentiu tão sozinha quanto agora, depois de sete anos de casada. Não serviam mais de companhia um para o outro. Os diálogos cada vez mais escassos, eram sobre as crianças. Sentia que devia fazer alguma coisa, participar mais da vida, se divertir e não ser apenas um mero espectador. Os domingos eram insuportávelmente claustrofóbicos, como uma prisão domiciliar. A tv ligada, os jornais espalhados na sala junto comos brinquedos, a louça suja na cozinha, o cheiro nauseabundo do lixo acumulado, o chão e as paredes escuras de poeira e fritura. Queria não ter que se preocupar com isso, fugir para um lugar em que tomassem providências por ela. Sentia-se letárgica, onipotente, entediada e zangada com ele, com a vida que levavam. Ela ansiava por respostas e ele não lhe dava nenhuma, apenas mais indagações, mais motivos para se sentir mal.
" A Gente assimila os sentimentos dos outros. Minha mãe queria cair fora. Mas ela ficava; tinha de ficar, para sempre. As mulheres de sua época não tinham dinheiro nem lugar para ir. Mas tinham tvs e geladeiras, afinal de contas." Do livro Intimidade de Hanif Kureishi.
Não esqueça do computador.
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