sexta-feira, maio 14, 2004


O linchamento do correspondente

Antonio Brasil
Tinha “jurado” que não iria cair em tentação e insistir no debate sobre a matéria do presidente Lula no NYT. Creio que esse assunto se tornou um verdadeiro “festival de erros e besteiras”. Há muito tempo não leio tantas bobagens na nossa imprensa e presencio a tanta incompetência em termos de “diplomacia”. Estamos embarcando em mais uma canoa furada. Nada como um bode ou matéria “expiatória” para aliviar as tensões, afastar as crises e criar precedentes perigosos.

É impressionante como cometemos tantos erros em tão pouco tempo e como perdemos tanto tempo com um assunto tão pequeno. Beber ou não beber, eis a questão! Teorias conspiratórias, acusações de calúnia, difamação e desmoralização de governo se misturam em um frenesi de preconceitos e decisões autoritárias. Um jornalismo meio bêbado confunde patriotismo e nacionalismo com militância política e antiamericanismo. Liberdade de imprensa se transforma em decisões apressadas, valores diferenciados para estrangeiros, linchamento popular de jornalista e reviravoltas ainda mais surpreendentes. No cenário internacional, o Brasil faz um carnaval fora de hora e finalmente consegue sair do berço esplêndido. A nossa diplomacia se engaja na militância política e transforma negociações em condenações. O Brasil vira enredo trágico de escola de samba do crioulo doido ou telenovela surrealista sem pé nem cabeça. Todos os dias somos contemplados com um novo capítulo que faz ainda menos sentido. Cada novo capítulo consegue ser ainda pior do que o anterior. E o problema é que essa novela pode estar somente começando.

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